A entrada dos sonhos para o campo da ciência foi um acontecimento decisivo; uma abertura de novos caminhos, sendo pioneiro o Dr. Freud com o seu livro: “A Interpretação dos Sonhos”, em 1900. Daí em diante, ficou demonstrado que a vida psíquica do homem não se passa apenas no plano consciente. Existe um outro nível, o inconsciente, no qual os sonhos são manifestações dessa linguagem.
Na perspectiva Junguiana, ampliamos essa linguagem do inconsciente pessoal ao inconsciente coletivo como representação da história universal da humanidade.
Estudar os sonhos é tarefa importante para aquele que quer se conhecer e fazer desse conhecimento a base para o desenvolvimento de sua personalidade, que é chamado processo de individuação.
A arte da interpretação dos sonhos é chamada Hermenêutica, derivada do Deus grego Hermes, mensageiro da vontade dos deuses.
Na Antiguidade, nos templos da Grécia, os sonhos eram utilizados para curar doenças e o grande médico que curava almas era Asclépio, Esculápio para os latinos, um herói-deus, mito antigo que viveu no século XIII A.C.
No mundo contemporâneo, sec. XXI utilizamos os sonhos em consultórios de medicina e psicologia, na psicoterapia, com o mesmo objetivo de cura ou transformação de almas.
Na visão Junguiana, o Sonho é fenômeno natural que provêm da mesma fonte que uma árvore ou um animal selvagem. Eles possuem uma inteligência superior, uma sabedoria e uma perspicácia que nos orientam. Eles nos mostram em que aspectos estamos enganados e nos alertam a respeito de perigos, predizem eventos futuros, aludem ao sentido mais profundo da nossa vida e nos proporcionam insights reveladores.
Os sonhos são mensagens do Self, arquétipo que simboliza o centro mais profundo de nossa consciência, unificador da psique total, consciente e inconsciente. Simbolicamente, ele é expresso em toda a história da humanidade como divindade interior, ou a imagem de Deus.
A maturidade e desenvolvimento de um ser humano exigem um confronto entre o ego, centro da personalidade consciente e o self. Essa dinâmica é vivenciada na análise de sonhos.
A função geral dos sonhos é tentar restabelecer a balança psicológica produzindo um material que complementa a nossa vida consciente.
Um sonho não poderá ser corretamente interpretado sem que seja conhecida a situação consciente do sonhador, daí a importância de se trabalhar a história pessoal num contexto terapêutico.
A interpretação de um sonho exige todos os aspectos do ser humano; da observação das suas sensações físicas, emoções e sentimentos ao uso da razão lógica e da intuição, para compreendê-lo.
O método utilizado para as narrativas dos sonhos compreende a exposição, que é a observação do cenário com seus personagens, a peripécia ou desenrolar da história e a lysis como solução final.
É uma pesquisa que envolve a imaginação criadora, pois os sonhos serviram de inspiração para escritores através de seus devaneios poéticos; nas artes plásticas, no cinema, teatro e artes em geral.
Gaston Bachelard, escritor e filósofo francês, defende o direito de sonhar de todos os seres humanos como capacidade imaginativa de restabelecer a saúde psíquica. Ele pesquisou em sua obra a relação dos quatro elementos da natureza: Terra. Água, Ar e Fogo, com as propriedades dos materiais, traduzindo de forma poética a relação com o ser humano.
Dr. Jung criou os conceitos da Psicologia Analítica ou Profunda, a partir da experiência com seus sonhos e de seus clientes, elaborando toda sua vida e obra.
Uma das coisas que considero mais importantes na vida onírica é escrever e compartilhar os sonhos, pois a partir dessa interação, nos abrimos para esse campo imaginário, oculto, inexplorado de nossas profundezas; é sempre um mistério a ser desvendado e merece respeito e humildade, observar o que está além do consciente como conteúdo natural de nosso psiquismo.
Podemos ser criativos e dar títulos às nossas histórias que vivenciamos ao dormir. Utilizar também a expressão artística de nossas imagens simbólicas através do desenho, pintura, modelagem, canto, música, dança ou expressão corporal e a dramatização como representação deste conteúdo.
Muitas descobertas científicas e criativas surgiram a partir de sonhos e estão descritas na história da humanidade.
Dr. Jung criou o mapa da estrutura e dinâmica arquetípica da Psicologia Analítica através de vários sonhos, que estão descritos em sua obra.
Recomendamos leituras:
C. G. Jung – Memórias, Sonhos, Reflexões.
C. G. Jung e Analistas – O Homem e Seus Símbolos.
Marie-Louise Von Franz em conversa com Fraser Boa - O caminho dos Sonhos.
Robert Johnson - A chave do reino interior.
Gaston Bachelard - O direito de Sonhar.
No cinema, recomendamos o filme de Akira Kurosawa - Sonhos.
De Wim Wenders - Asas do Desejo.
Nas Artes Plásticas, as pinturas de Salvador Dali, Marc Chagall, Monet, Van Gogh.
Verusa Silveira
Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana
terça-feira, 23 de março de 2010
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Muito esclarecedor esse artigo. Assim como sua linguagem clara e objetiva atinge o leitor leigo, o sonho surge como uma ponte entre o consciente e o inconsciente.
ResponderExcluirParabéns, Ve.
Grande abraço.