quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Interpretação do filme "Morangos Silvestres" - Ingmar Bergman.

Interpretação do filme Morangos Silvestres, uma obra prima do grande diretor sueco Ingmar Bergman, escrito e dirigido em 1957.

Recebeu prêmio no Festival Internacional de Berlim como melhor filme em 1958 (Urso de Ouro).

Em 1960 recebeu o (Globo de Ouro) na categoria de melhor filme estrangeiro.

Elenco Principal:
Victor Sjostrom – Prof. Isak Borg
Bibi Anderson – Sara
Ingrid Thulin – Marianne
Gunnar Björnstrand — Evald Borg
Björn Bjelfvenstam — Viktor
Julian Kindahl –Agda
Folke Sundquist – Anders
Naima Wifstrand – Sra Borg, mãe de Isak

O filme foi escolhido por se tratar de uma jornada interior de um cientista médico de 78 anos de idade, que compartilha seus sonhos e lembranças de infância e juventude, sendo rico em simbolismo, vivenciado através de seu Processo de Individuação ou transformação, que pode ser deflagrado a qualquer momento da vida, até mesmo na velhice próximo da morte, que, aliás, é uma grande chance para o salto quântico. No filme, a mobilização se dá através de sonhos que são grandes mensageiros do inconsciente, estados alterados de consciência com visões e imagens do passado e recordações, encontros inesperados e acontecimentos sincrônicos. A mobilização provocada por esses mecanismos criaram possibilidades de encontro com suas próprias máscaras comportamentais e com a sombra.

Essa narrativa inicia com Isak em seu escritório, fazendo reflexões sobre sua vida, ao lado de um cachorro de porte aristocrata e sua postura corporal e fácies demonstra melancolia. Considera-se um velho meticuloso e difícil na convivência. Afastou-se do social e tem uma boa empregada Agda que cuida do seu cotidiano para sua sorte, durante 40 anos. Sua mulher é falecida há muitos anos. Tem uma mãe muito idosa e também vive só e permanece ativa. Tem um filho médico casado há 06 anos e não tiveram filhos.

Isak está se preparando para uma viajem à Lund, cidade onde ele irá receber um prêmio de Doutor Honoris Causa pelos cinqüenta anos de carreira como médico bacteriologista e professor exemplar.

Na véspera da viagem ao deitar, sonhou:

Durante sua caminhada matinal, ele entrava numa parte desconhecida da cidade e se perdia nas ruas desertas e solitárias com casas em ruínas num ambiente bem nebuloso.

Ele avista no alto de uma construção, pendurado na parede, um relógio grande sem ponteiros e faz uma conexão com seu relógio de bolso também sem ponteiros. Segue caminhando perdido e avista de costas um homem de chapéu e, sobretudo, semelhante a sua forma de se vestir. Vai em sua direção e o toca, aparecendo um homem sem boca e olhos como um fantasma bem ameaçador; em seguida sangra e se dissolve no chão.
O relógio badala. Aparece numa esquina uma carruagem fúnebre, com dois cavalos negros, carregando um caixão. Suas rodas ficam presas no lampião de luz da rua e se soltam, vindo na direção do sonhador, despedaçando-se na parede. A carruagem vira e o caixão abre e aparece o moribundo com as mãos abertas chamando Isak e seu rosto se assemelha ao dele.

O cenário do sonho são ruas desertas e casas em ruínas, que se refere ao espaço psíquico do sonhador nesse momento: deserto, solidão e destruição, instinto de morte prevalecendo.

Os personagens são ele mesmo, o homem sem face, e o defunto.

O relógio é um mecanismo que marca o tempo. Este no caso não pode mais fazê-lo porque está quebrado. Não há mais tempo. No inconsciente não existe tempo.

Através dos sonhos, podemos observar acontecimentos do passado, presente e futuro.

Ele acorda perplexo, amedrontado, abatido diante do sonho e decide cancelar a viajem de avião e dirigir seu próprio carro numa viagem longa de Estocolmo a Lund. Sua empregada se surpreende com a nova decisão, pois já estava preparada para acompanhá-lo. Marianne, sua nora, pede para ir junto e ele concorda.

Todas as imagens desse sonho expressam a morte.

O sonhador, um idoso, está finalizando um ciclo de sua vida, se reavaliando diante da grande travessia. O medo lhe impulsionou a assumir a direção de seu carro, se transformando em ato de coragem e teve a solidariedade da nora que também enfrentava uma crise crucial no casamento e precisava desabafar.

Acompanhar nossos sonhos traz elaborações importantes para nossa vida.

O personagem escutou seu sonho e quis contar para sua nora que não deu importância.

Durante a viagem, ela o acusou de egoísta e de que seu filho não o amava e que ela tem pena dele. Diante do abatimento, Isak decide revisitar a casa de veraneio de sua infância. Um local integrado com a natureza, defronte a um belíssimo lago com um píer de madeira. O espaço pitoresco é um canteiro de morangos, inspiração para o título do filme que se encontra no centro da vegetação frondosa.

Marianne vai se banhar no lago e Isak mergulha em suas lembranças de infância. Ele é o filho mais velho dos 10 irmãos. Sua mãe é uma mulher muito forte, autoritária, fria, dura, com feições masculinas. O pai parece ausente nas suas recordações.

Isak está bem sensível ao seu inconsciente e surgem lembranças fortes, como se fossem visões, com sua participação consciente.

Diz: “É possível que eu tivesse ficado sentimental e tivesse me interessado por coisas da minha infância”.

Essa frase demonstra que ele está saindo da razão lógica que era seu estilo de vida para observar suas emoções e intuições.

Lembranças:

Isak está submerso em seu mundo interior quando vê diante de si, no canteiro de morangos silvestres, Sara sua prima, antiga paixão de sua vida, colhendo morangos numa cesta para dar de presente ao tio que fazia aniversário. Sara é uma moça bela e sedutora; ele vê seu irmão se aproximando e a seduzindo, dando-lhe um beijo.

Ela está conflitada entre os dois irmãos que a amam, sendo Isak rejeitado, criando uma marca em sua alma, uma ferida que ele não superou.

As recordações continuam com o almoço do aniversário, com sua mãe bem autoritária dando ordens a todos e criticando as atitudes na mesa. Sara é acusada de flertar Sigfrid, irmão de Isak, e ela nega em soluços. Sai da mesa e uma das primas a acompanha e ela confessa que se sente culpada em relação à Isak que é honesto, fino, sensível, lê poesias, fala da vida após a morte e gosta de tocar piano.

O personagem era um homem muito sensível e foi se enrijecendo com o passar do tempo, se identificando com a persona para se defender de suas frustrações.

Ele recorda com muita dor, esses acontecimentos.

Sincronicamente, coincidência do destino, aparece uma jovem na sua frente, bem vivaz, de nome Sara e lhe pede carona. Ele conta que teve uma namorada chamada Sara que hoje tem 75 anos e casou com seu irmão e tem 06 filhos.

Sara está acompanhada de dois jovens e Isak concordou com a carona, estando agora com 05 passageiros. Ela falava e sorria com facilidade sendo noiva de um deles. Repete-se um triângulo amoroso no contexto.

Em uma curva, surge outro automóvel em alta velocidade em direção a eles, capotando e seus ocupantes, um casal, saem ilesos do carro, porém discutindo muito com sérias acusações. Isak os convida a levá-los em seu carro e a discussão continua, havendo agressões físicas.

A tensão do casal criou desarmonia para os viajantes e sua nora pediu que eles se retirassem.

A crise conjugal mobilizou os conflitos que todos estavam passando em relação aos seus afetos do passado e do presente, se tornando insuportável.

Isak abria seu coração à medida que incluía varias pessoas diferentes, num convívio íntimo de uma viagem de carro. Sua nora dividia com ele a direção do carro e era mais amável com todos.

Um dos rapazes era músico, tocava violão, falava de religião e de Deus, e iria ser pastor. O outro acreditava na ciência e iria ser médico. Durante o percurso, houve discussão e agressão física entre os dois. Cada um queria impor sua verdade. O que estava oculto nessa briga é a disputa por Sara que está confusa em sua decisão. Isac rememora seu conflito amoroso e também aspectos de sua personalidade dividida.

Os encontros que temos na vida são oportunidades e funcionam como espelhos de nossa alma pelos aspectos positivos ou sombrios da realidade.

O personagem Sara veio despertar em Isak, o amor Eros através da vida que ela irradiava com sua alegria espontânea e inocente de sua alma jovem e com desejo de amor ardente.

Isak despertou sua Anima, o arquétipo do feminino inconsciente no homem, responsável pela afetividade e expressão dos sentimentos, a partir da segunda metade da vida, onde a busca de dar um sentido à existência se torna mais intenso. Isak ficou mais vivo, participativo e amistoso. Ele redescobre o prazer e a alegria de viver.

A nora, também aspecto de sua anima, uma mulher inteligente que o confronta no seu masculino e ele aceita à medida que desenvolve afeto por ela e também a intenção de resgatar o filho. A relação foi se humanizando e havia uma harmonia entre eles.

Sara diz que é virgem e fuma cachimbo no carro; Isak aceita tudo e diz que os dois homens a amam. Vemos que ele está perdoando o passado e se reconciliando.

Chegam a Lund e vão ao posto de gasolina abastecer o carro. Um casal de jovens, donos do posto, o reconhece como médico da cidade que ajudou muita gente. Isak fica surpreso com o reconhecimento trazendo uma dose de otimismo e confiança para sua entrada nesta cidade onde exerceu a medicina com dedicação. O casal deu de presente a gasolina e disseram que o novo filho terá seu nome em sua homenagem. Isak diz que gostaria de ser o padrinho. Os gestos de afeto se multiplicam durante o percurso.

O grupo decide almoçar bem alegre, estando Isak bem integrado com os jovens, sorrindo e relaxado. Bebe vinho, fuma cachimbo e conta suas histórias nessa cidade como médico.

O rapaz imaginativo Anders cita um texto:

“Quando tal beleza se manifesta em cada veio da criação... como deve ser bom ser a primavera imortal.”

Victor diz que não deveriam mais discutir Deus ou Ciência nesta viagem.

Anders diz que “o homem vê a morte com medo.”

Perguntam a opinião do professor, que prefere ficar calado e diz:

“Onde está o amigo que procuro em toda parte?
O amanhecer é a hora da solidão e do carinho.
Quando o dia se vai...
Ainda não o encontrei.”

Anders diz:

“Um fogo invade meu coração,
Sinto sua presença.”

O Senhor é religioso?

Isak responde:

“Vejo sua Glória poderosa onde nascem as flores.
As flores têm perfume,
E as montanhas se elevam.”
Marianne diz:

“Seu amor está no ar que respiro.
Ouço sua voz sussurrando no vento do verão.”

Foi um almoço inspirado e a energia puer entusiasmada dos jovens se integra ao senex, o idoso onde prevalece a prudência e reflexão. Essa complementaridade proporcionou a transformação de todos.

Isak vai visitar sua mãe que reside na casa maior da cidade. Marianne o acompanha.

A mãe o recebe orgulhosa do título, o parabeniza, porém cria um constrangimento típico de sua personalidade ríspida ao pedir que a mulher se retire, imaginando que se trata da sua esposa já falecida há muito tempo, se referindo ao sofrimento que ela causou em toda a família. Trata-se de uma idosa amarga, ressentida, fria, calculista. É também um aspecto de sua anima mais importante, pois se trata de sua mãe, modelo da anima do homem.

Ela mostra uma caixa onde guarda recordações da família e Isak pede um porta-retrato onde ele está com a mãe e o irmão Sigfrid. Esse fato demonstra que ele já pode aceitar e perdoar o irmão fazendo parte do caminho da redenção antes de morrer.

Ela mostra uma boneca à sua nora que a carrega. Antes, ela a critica por não estar com o marido e não ter tido filhos. Ela exibe sua árvore genealógica com 10 filhos, 20 netos e 15 bisnetos. Diz que só lhe procuram para pedir dinheiro emprestado e estão ansiosos para receberem a herança e ela não morre.

É uma velha solitária e apesar de ter uma família numerosa, o único neto que a visita é Evald, marido de Marianne.

Na despedida, ela pede ao filho que leve um presente para o neto que vai fazer 50 anos, filho de Sigfrid e Sara. É um relógio de bolso sem ponteiros igual ao do sonho. Isak fica perplexo diante da coincidência já prenunciada no sonho revelando acontecimentos futuros.
Despedem-se da gélida anciã e encontram os dois rapazes próximos ao carro lutando fisicamente pela discussão de idéias entre religião e ciência.

A viagem prossegue e Isak está muito cansado e sonha dentro do carro.

“Vê no céu uma revoada de pássaros negros e logo em seguida avista o canteiro de morangos e Sara reaparece com um espelho pedindo que ele se veja como um velho assustado que logo morrerá, e ela tem uma vida pela frente. Pede desculpas se o ofendeu. Ele aceita suas agressões e ela coloca novamente o espelho em sua frente pedindo que não desvie o olhar e informa que vai se casar com seu irmão e que ele tente sorrir.

Como dói, ele diz. Ela se despede desqualificando-o mais ainda, correndo no campo em direção a um berço onde estava seu filho e o acalenta. “Estou aqui com você; não tenha medo”. Sara e o filho entram na casa. Repete-se a revoada dos pássaros e Isak vê através de uma janela Sara e seu irmão se encontrando amorosamente, fazendo um drinque numa refeição que parece uma celebração. A lua cheia aparece no céu. Isak olha para o berço vazio, vê a cena amorosa e olha para o céu como se implorasse algo.

Bate com insistência numa porta e se fere com um prego. Aparece um homem que o reconhece como Prof. Borg e o manda entrar. É um inspetor que vai testar sua capacidade profissional. Abre-se uma nova porta e caminham num longo corredor em direção a uma nova porta, onde existe um auditório e seus companheiros de viagem estão sentados.

O inspetor o interroga se trouxe seu livro e manda que ele identifique uma bactéria no microscópio. Ele não consegue ver nada. O inspetor diz que o primeiro dever de um médico é pedir perdão. Ele indaga se foi acusado de culpa e pede clemência durante o exame. O inspetor pede que ele faça o diagnóstico de uma paciente e ele diz que está morta. O rosto é semelhante à mulher do casal que ele deu carona; ela ri muito alto, zombando de si.

A conclusão do exame é que ele é incompetente.
Sua esposa faz acusações e ele terá que confrontá-la.

Andam por uma floresta e aparece sua mulher acompanhada por um homem que a toma nos braços com violência e a possui. O inspetor mostra que ele guardará essa imagem.
A mulher dialoga com seu amante e acusa o marido de frio e sente culpa de traí-lo.

O inspetor indaga: Percebe o silêncio?
Tudo se foi.
Qual será a pena?
A Solidão.

Isak diz para sua nora ao acordar que sonhou e “estou morto apesar de vivo.”
Ela está mais receptiva para escutá-lo.

Continuam suas elaborações através dos sonhos, aparecendo Sara um aspecto de anima cruel o desqualificando e rompendo sua ilusão amorosa, mostrando sua real escolha.

O espelho simboliza a possibilidade de enxergar a verdade.

A criança é um símbolo do Self e pode estar representando o acolhimento de uma nova atitude. O sonhador vê o encontro amoroso de Sara com seu marido e filho. É provável que ele esteja incorporando uma nova visão com aceitação da realidade. Um ciclo se fecha e o inconsciente lhe transmite mensagens para que o consciente se transforme e se recrie.

O inspetor é uma parte sua que julga e pune seus atos, desqualifica e lhe impõe um isolamento. Isak está reavaliando sua consciência e é muito rigoroso. Os personagens que assistem seu exame também são aspectos seus que estão lhe observando. O seu casamento e a morte da esposa estão passando por novas investigações.

Ele comenta seu sonho com a nora e esta confessa que seu marido também está morto vivo e tem apenas 38 anos.

Marianne recorda um diálogo com Evald dentro do carro onde informa que está grávida e este abomina a idéia de ter um filho. Ela diz que vai assumi-lo. Ele sai do carro numa tempestade e pede que ela opte entre ele e o filho. Diz: “Eu fui um filho indesejado de um casamento infernal; acho essa vida, um lixo”. Retornam ao carro e ele confessa que o necessário da vida é morrer. O sogro a ouve atentamente e diz que ela pode fumar e indaga como poderia ajudá-los. Ela responde que não quer continuar vivendo desse jeito. Esse diálogo remete ao Princípio de Thanatos, que simboliza destruição.

Nesse mesmo instante, os jovens aparecem na janela do carro bem alegres, cantando, e oferecem um ramalhete de flores do campo a Isak comemorando sua vitória como pessoa bem sucedida.

Vemos nessa cena a atitude oposta de Thanatos a Eros que é desejo de viver, construir, criar.

Estão chegando à reta final da viagem e são recebidos por Evald e Agda que hospedam os rapazes que irão assistir à cerimônia quase fúnebre tal a formalidade e as vestes negras dos participantes, desfilando para receber o prêmio numa catedral. Ele é coroado como um rei, simbolizando poder máximo que um ser humano pode alcançar. Os jovens acompanham da rua sorrindo, totalmente informais.

Isak pensa nos acontecimentos do dia e decide que irá escrever tudo que observou e vivenciou dizendo que havia uma “casualidade memorável” nos fatos.

Recolhe-se para dormir bem cansado e pede a Agda para se chamarem pelos seus nomes, tentando humanizar e criar intimidade na relação e esta se recusa dizendo que ele deve se comportar na idade dele e mantém o limite de empregada fiel que o serve com muito amor.

Os rapazes fazem uma serenata de despedida e Sara declara que o ama muito “hoje, amanhã e sempre”.

Essa declaração de Sara no presente é essencial ajudando na cicatrização do seu passado. É um aspecto de anima positiva.

Evald e Marianne se preparam para ir a um baile e o salto do sapato quebra e ela volta para trocá-lo. Observamos um simbolismo de mudança de base representada pelos sapatos.

Isak chama seu filho para um diálogo e pergunta sobre suas decisões em relação ao casamento e ele diz que não pode viver sem ela.

Marianne agradece ao sogro pela companhia e diz que gosta muito dele, que retribui o afeto com abraço e carinho.

Isak pensa deitado em sua cama: “Quando fico preocupado ou triste, tento relaxar com as lembranças de minha infância”.

Aparece Sara no local comum de encontro e diz que não sobrou nenhum morango. Titia quer que eu procure seu pai.

Ele recorda a preparação para velejar na ilha. Diz que não encontrou nem o pai nem a mãe. Sara se oferece para procurá-los. Vão pegar o veleiro no píer; andam de mãos dadas no campo aberto de flores, bem luminoso. De longe, avistam o pai e a mãe. O pai pesca e ela está mais distante, sentada defronte ao lago.

Através dessas últimas lembranças, Isak reintegra o masculino e o feminino dentro de si, o arquétipo do pai e da mãe.

Ele acorda sorrindo com seu olhar de idoso reconciliado e em paz com sua vida.

Isak faz uma ressignificação de sua história com a ajuda dos sonhos e colaboração do destino colocando essas pessoas em seu caminho para lhe ajudarem a resgatar o amor que estava escondido numa persona austera, rígida, fria e uma sombra anti-social, mal humorado, pesado, sem desejo de viver, com o coração fechado. Sua afetividade foi sendo resgatada através do reconhecimento e aceitação de sua generosidade e compaixão como médico e ser humano, seu amor pela natureza que foi expresso através de poemas, sua sensibilidade pela arte possibilitando abertura para compartilhar a vida. Ele se reencontra com um nível mais profundo de sua consciência, a anima , ponte para o self, arquétipo da união, responsável pela integração dos vários aspectos de sua personalidade.

Agora ele já pode fazer a grande travessia com mais confiança na vida e não temer a morte.

Cinema no Consultório
realizado em 11/11/2010.

Focalizadora: Verusa Silveira
 (Coordenadora do Núcleo de Estudos Junguianos BA)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cinema no Consultório, última sessão do ano!

MORANGOS SILVESTRES

- Uma obra-prima de Ingmar Bergman -
Interpretação à luz da Psicologia Analítica de Carl G. Jung.



Focalizadoras: Marcia Hita - Médica, Psicoterapeuta Junguiana
Verusa Silveira - Psiquiatra,  Psicoterapeuta Junguiana

Dia: 11 de novembro (quinta-feira) - Hora: 19h

Local: R. Ewerton Visco, 324, Ed. Holding Empresariaol, sl. 1107.
(atrás do Shopping Sumaré)
Investimento: R$ 15,00  
Tel: 71 3271-3640/ 9201-0250/ 9972-4889

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Deus Mercúrio.

Os símbolos são as manifestações exteriores dos arquétipos.

É através da análise e da interpretação de sonhos, símbolos, fantasias, visões, mitos e da arte é que se pode chegar a conhecer alguma coisa do inconsciente coletivo.

O mito é a ponte inevitável entre o inconsciente e o consciente.

O Deus Mercúrio representado nessa imagem abaixo é o intérprete da vontade dos deuses. Ele se apresenta com um chapéu de formato de asas e sandálias também com asas - representando o voo da imaginação.

Segura um bastão que representa a cura com duas serpentes entrelaçadas - o caduceu é um emblema universal da ciência médica.

É um Deus alquímico, pagão, sendo responsável pelas transformações do chumbo em ouro, nos processos de cura. No processo de individuação, o ser humano passa por essa transformação na busca do Self (centro interno), através do Ego.
 
Mércurio é hermafrodita, contendo o masculino e o feminino e os 4 elementos da natureza: terra, água, ar e fogo, que são as funções de orientação da consciência: ação, emoção, pensamento e intuição.

Segundo a lenda, Mercúrio, quando ainda era bebê, saiu pelo mundo e roubou os rebanhos de Admeto que Apolo estava guardando. Apagou os traços do roubo, subornou as testemunhas, sacrificou duas novilhas aos deuses, matou uma tartaruga da qual fez uma lira, escondeu o gado e voltou ao berço como se nada tivesse acontecido. Já começou, então, a mostrar sua rapidez, versatilidade, diversidade e astúcia.

 Apolo descobriu o roubo, e como tinha o dom da adivinhação, acusou Mercúrio. Os deuses não acreditaram, porque, afinal, Mercúrio era um bebê. Mas Apolo levou-o a Zeus que o obrigou a não mentir. Mercúrio não mente, também não diz a verdade completa. Para conquistar Apolo, Mercúrio tocou a lira feita da tartaruga, encantando-o. Então Apolo trocou os rebanhos pela lira.
 
Observamos o lado sombrio da realidade através desse mito que não esclarece por completo a sua ação. Vemos a importância do arquétipo da sombra em nossa busca humana de completude.

Mercúrio é o Deus da comunicação, do poder da palavra, dos negócios e protetor dos viajantes.

 


Verusa Silveira - Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Avatar - A mudança é pessoal.

Essa é uma interpretação com imagens do filme "Avatar", com foco na espiritualidade.

Avatar   - El cambio es personal


(Originado por Patrícia Rodriguez)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Prezados colegas, clientes e amigos,

Estamos compartilhando a síntese do trabalho que apresentei no Congresso Internacional de Psicologia Transpessoal, com o tema Felicidade Autêntica, de 04 a 07 de setembro, em Águas de Lindóia, em São Paulo.

Foi um encontro de mentes brilhantes como Jean Yves Leloup, filósofo e teólogo, Roberto Crema, psicólogo e reitor da UNIPAZ, Amit Goswami, Físico quântico indiano do filme "Quem somos nós"?, a psiquiatra indiana e estudiosa do Yoga, Uma Krishnamurti, além de outras personalidades bem marcantes nessa possibilidade integrativa entre ciência, tradições espirituais, arte, várias antropologias expressando uma consciência multidimensional, unindo Ocidente e Oriente.

O Prof. Pierre Weil, introdutor da Psicologia Transpessoal no Brasil e criador da UNIPAZ, foi homenageado estando sua obra em exposicão e muitas fotos.

O Dr. Jung esteve citado pelos palestrantes com frequência, inclusive o físico quântico Amit, que falou da integração da Física com a Psicologia Analítica, já prenunciada por Jung no encontro com grandes físicos da época, que buscavam um novo paradigma. O Livro Vermelho de Jung, recentemente traduzido e publicado, foi discutido, com suas visões e imagens internas em seu confronto com o inconsciente.

O congresso foi finalizado com uma passeata pela Paz Mundial em homenagem também a Pierre Weil.

Vivemos momentos de Felicidade Autêntica e agradecemos aos organizadores, em especial, a psicóloga Vera Saldanha, presidente da ALUBRAT.

Abraços,
Verusa


Sonhos e Imaginação Criadora


Toda pessoa precisa de seus sonhos e fantasias para superar sua vida cotidiana.
A imaginação é um espaço de liberdade e condição prévia para transformações e manifestações criativas. Ela é condição básica para o trabalho criativo em geral, mas também para a vivência transpessoal.

Nossa proposta é vivenciar imagens arquetípicas de cura que trazem felicidade, bem-estar, beleza, poesia e criatividade, com foco no sonhar acordado ou devaneio como técnica de imaginação onde se usa a força do consciente através da vontade e da imaginação para realização de metas pessoais e transcendência dos limites cotidianos da vida.

O princípio que rege essa técnica é que o ser humano é o criador e construtor de sua vida, podendo interferir no seu inconsciente através do seu pensamento consciente e construtivo.

 O ser humano depende do poder da imaginação e de seus símbolos para suas representações literárias, pictóricas e todas as atividades artísticas, filosóficas e religiosas.

Nosso método foi criado com base na Psicologia Analítica e Transpessoal Junguiana, a partir dos conceitos de arquétipo, símbolo, sonhos e imaginação ativa. Propomos o diálogo entre o ego e o inconsciente através de suas imagens, com objetivo de criar uma relação com o self, centro organizador e transpessoal da consciência.

Observamos também as imagens que aparecem durante o sono, nos sonhos noturnos.

Escolhemos duas imagens arquetípicas para representação da divindade em sua natureza masculina e feminina para exercício da imaginação. 


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Mente Ampliada de Ruppert Sheldrake.

Seminário no CIT em 11/08/2010.

Livro: A Revolução da Consciência. Novas descobertas sobre a mente no século 21. Francisco Di Biase e Richard Amoroso

Escolhi focalizar os animais através do conceito de campos mórficos de Sheldrake.

A minha escolha se deve ao desejo de querer compartilhar as experiências vividas com os gatos, principalmente com meu gato de estimação Apolo de Ganesha, que completou em 02 de agosto desse ano, 14 anos sob o signo de Leão, assemelhando-se a um leãozinho, de cor ruiva com olhos de âmbar, pesando 07 kg, de raça persa, filho de americanos Black Jack e Miss Fuffi de Ganesha.

O meu primeiro contato com ele foi logo após seu nascimento, junto aos outros irmãos, todos lindos, sendo difícil escolher. O meu critério foi pela cor ruiva avermelhada, red tabby de sua linhagem universal ou por uma empatia sutil.

Para minha surpresa, a dona do gatil era cunhada do meu cunhado, havendo, portanto parentesco; cheguei até lá através de um anúncio de jornal.

Nossa primeira experiência é que fui buscá-lo na data combinada e ele desapareceu deixando a dona da casa aflita imaginando que ele pudesse ter saído quando ela chegou com as compras e a porta ficou aberta por longo tempo. Ficamos conversando e recebo a informação que ele ainda mamava. Naquele instante, compreendi que ele ainda não estava preparado para sair de junto de sua mãe e que era um gato esperto e muito inteligente. Esperei mais duas semanas para adotá-lo e assim foi em setembro de 1996.

Essa história iniciou com um presente que recebi no dia das mães, de uma amiga, uma linda gata persa, Morgana, toda branca com olhos rosados e aura também rosada. Tinha 10 meses e vivia numa casa que havia nascido um bebê e ela subia no berço e corria atrás das galinhas no quintal. Era muito arisca, tinha olhos assustados e foram muitos meses para amansá-la. Entrou no cio e tive que levá-la para cruzar com um belo gato e nasceram 05 filhotes.

Enquanto isso, Apolo se integrou à sua nova família e queria mamar em Morgana com freqüência junto à ninhada que se reunia em círculo logo após o nascimento. Observei esse fenômeno natural de auto preservação do reino animal. O Círculo é o símbolo da totalidade sendo a origem do Ser.

Ajudei Morgana a parir que estava assustada em sua primeira ninhada; um deles morreu. Vivi essa experiência ao seu lado dando suporte como parteira e me reconectei aos instintos maternos. Imaginei que os gatos trariam um aprendizado do meu lado animal tão importante para me sentir mais completa, feminina, terna e intuitiva. Apaixonei-me pela dupla e tão logo houvesse o desmame, daria os gatinhos. Morgana se deprimiu com a saída dos filhotes e tive de cuidá-la, com muita paciência e amor; decidi castrar o casal.

Apolo crescia bem afinado com meu temperamento e havia uma empatia extraordinária entre nós, no silêncio da comunicação amorosa, não escondendo minha preferência por esse animal que me seduzia por sua beleza, mansidão, concentração, higiene, disciplina, muitos atributos do deus grego da cura e da boa sorte da Índia.

Após um ano, adotei Miguel de cor azulada e formou o trio de guardiões angélicos.

Em pouco tempo, passei a ter crises alérgicas de sinusite com freqüência acusando nos testes alergia aos pelos de gato. Fiz a escolha dolorosa de me afastar dos meus queridos por ordem médica. Tratei de procurar uma nova família para Morgana e Miguel. Deixei Apolo como filho único e tentei me curar das alergias. A médica me advertiu dos danos á minha saúde e eu tive que escolher deixar Apolo ir também.

Foi um sofrimento de alma que me fazia chorar sempre e sonhar encontrando-me com ele em várias situações; creio que nunca nos separamos. A conexão que criamos se estendeu como fios de um elástico que superou separações no tempo e no espaço.

Relaciono essa conexão com campos mórficos desde o instante em que o escolhi e vice versa naquele gatil de pessoas conhecidas. Fomos atraídos para esse campo de energia para vivermos juntos como destino.

Sheldrake sugere que a comunicação telepática depende de laços entre pessoas e animais que são verdadeiras conexões que estão ligados através de campos chamados mórficos. “O campo do corpo e o próprio corpo, normalmente são relacionados da mesma maneira que um campo magnético é relacionado com um imã. O campo magnético está dentro do imã e também ao seu redor; mexendo-se o imã, o campo se mexe.”

O que Sheldrake chamou de campo é nosso Corpo Energético Invisível ou Sutil, constituído de vários campos, que formam nossa consciência transdimensional. A ciência atual ainda não considera o campo humano como real. Sua visão explicativa é de causa e efeito, considerando a matéria e a mente como produto do cérebro físico.

A nossa separação durou 02 anos e eu pressentia até quando ele adoecia e seu dono me ligava e pedia orientação; mesmo sabendo que devia me desapegar, uma força maior de pensamento e sentimento nos conectava através de sonhos, no inconsciente, e no mundo consciente.

A consciência envolve uma dimensão bem maior que nossa percepção consciente reduzida pode alcançar, pois o inconsciente é ilimitado e infinito.

Apolo retornou em função da mudança de seu novo dono para outro estado. Fui buscá-lo e criei uma ponte com minha filha deixando-o em sua casa, emprestado. Isso gerou uma briga, pois ela também se apaixonou por ele e assim, o havia perdido para sempre.

Vanessa foi morar no Rio de Janeiro e o devolveu muito sentida e o acolhi jurando que iria superar as alergias. Voltamos a dividir o mesmo espaço e reconhecer nossas afinidades como animal e humano.

Existe uma hipótese que, a depender das ligações estabelecidas com os animais, os campos mórficos são esticados e não rompidos, quando uma pessoa parte e deixa o animal para trás. Permanecemos interligados a animais e pessoas aos quais somos próximos, até mesmo quando estamos distantes, por afinidades de campo.

Na visão de Sheldrake, no fenômeno da telepatia, é melhor estudar animais do que pessoas. Cães, gatos, ou outros animais podem captar as intenções de seus donos até a grandes distâncias. O autor acha que esses campos têm uma espécie de memória, que é chamada ressonância mórfica, que dá um memória coletiva para cada espécie.

Podemos fazer uma analogia com o inconsciente coletivo que traz a memória da herança universal e seus arquétipos como matrizes de nossa origem comum a todos em sua forma oculta ou inconsciente. Quando acessamos essas representações simbólicas, entramos nesse reino mítico, imaginativo e criativo, de poderes psíquicos que vão além da mente racional e nos coloca diante da intuição e de fenômenos de sincronicidade que são naturais quando consideramos a ligação inevitável entre o observador e o objeto da observação, dissolvendo a separação entre sujeito e objeto. O cientista participa da realidade que está estudando. O mundo exterior e interior se unem. É o que Jung chama de “Unus Mundus”, visão unitária do mundo, o mandala representado pelo círculo.

A idéia filosófica alquímica é de que o ser humano é um micro cosmos estando integrado ao céu e a terra, aos reinos da natureza mineral, vegetal, animal, humano, angélico. É a busca atual do ser humano de vivenciar experiências transpessoais.

Voltando aos gatos, que é o foco de nosso trabalho, com Apolo que considero um animal curador ou coterapeuta pelas suas qualidades de percepção extra sensorial e delicadeza tornando-o singular e belo por natureza.

Os gatos parecem conseguir o que querem de seus donos por meios sutis; são introvertidos, silenciosos, calmos, se comunicam pelo olhar profundo e pelo toque como massagem se conectando com pontos de tensão trazendo alívio e conforto. São independentes e afetuosos. Têm um talento especial para detectar energias negativas dos lugares e transformar, como purificadores, às vezes ficando doentes pela carga que recebem, principalmente de seus donos.

No Antigo Egito os gatos eram considerados sagrados e cultuados como deuses. O arquétipo era representado pela deusa Bastet, cabeça de gato e corpo de mulher, como uma entidade benévola. Outra representação arquetípica dos felinos é a deusa Sekhmet, poderosa, guerreira, violenta, pois expressa sua raiva. Sua cabeça é de leoa e o corpo delicado de mulher. Dizem que uma se transforma em outra a depender da necessidade.

Os gatos são animais lunares, da noite e, portanto representam o inconsciente. Quando aparecem em sonhos, estão ligados ao sonhador pelo seu aspecto feminino. Representa a anima, a feminilidade inconsciente do homem.

Dedico esse trabalho a Apolo de Ganesha, agradecendo a convivência diária harmoniosa e ajuda especial que ele me dá, para que meu coração continue aberto através da declaração de amor que ele me inspira, diariamente. “Te amo Fofinho”.

Verusa Silveira: Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana.

Bibliografia:
Nise da Silveira, Gatos, a emoção de lidar.
Kate Solisti-Mattelon, Conversando com os gatos.
Rupert Sheldrake, Cães sabem quando seus donos estão chegando.
Francisco Di Biase e Richard Amoroso (organizadores), A Revolução da Consciência.
Capítulo 7, A mente ampliada de Ruppert Sheldrake.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Interpretação do filme Vick Cristina Barcelona

É a história de duas jovens americanas que vão para Barcelona, passar os dois meses do verão, julho e agosto: Vick e Cristina. Tinham os mesmos gostos em muitas questões, menos nas questões de amor onde seus pontos de vistas eram opostos.

Vick tem um temperamento mais realista e uma personalidade racional. É uma típica intelectual acadêmica e seu objetivo na viagem era concluir seu Mestrado Identidade Catalã, estando determinada a estudar todas as manifestações da arte e cultura deste Universo entre as quais as obras do arquiteto Gualdi e do artista Miró. Rígida, no papel de moça bem-comportada e avessa a aventuras, desconhece a verdadeira essência de seus sentimentos. Tinha escolhido um futuro que incluía o casamento com um bem sucedido homem de negócios de Nova York, de quem era noiva e esperava encontrar segurança, compromisso e seriedade nesta relação.

Cristina era do tipo sonhadora e aventureira, acreditava que o amor não se podia definir. Tinha uma personalidade sentimental. Sentia paixão pela vida, sendo liberal e aberta a novas experiências arriscando suas emoções. Sabia apenas o que não queria em uma relação. Ainda sem identidade profissional, almeja se expressar através das artes mais se sentia insegura e incapaz de realizar algo de realmente bom e belo. Escreveu, dirigiu e atuou em um filme de 12min que a frustrara e sua mais nova paixão era a fotografia.

Chegaram a Barcelona e foram hospedadas por um casal de meia idade, Judy e Mark, amigos dos pais de Vick, que com o filho já adulto e fora de casa queriam movimentar sua vida. Tinham uma boa situação financeira, vivendo em uma linda casa. A mulher, no entanto não era mais apaixonada pelo marido e apesar de amá-lo era infiel no casamento, vivendo assim na Máscara.

O casal levava Vick e Cristina à vários lugares da vida cultural e artística de Barcelona. Certa noite em na inauguração de uma Galeria de Arte, um homem chama a atenção primeiro de Cristina. Era Juan Antonio Gonzalo, um pintor, conhecido no meio artístico, que havia se separado recentemente de uma bela mulher tempestuosa que tentara matá-lo e vice-versa.

Mais tarde Vick e Cristina, se encontram sincronicamente com Juan em um restaurante onde foram jantar. Ele se aproxima das duas e convida-as para passar o fim de semana em Oviedo, para ver uma escultura que o inspirava muito. Vamos comer e beber um bom vinho e fazer amor nós três. A proposta é dionisíaca e ousada, de viver o prazer, alem de hedonista viver o presente, pois a vida é curta, monótona e cheia de sofrimento. Essa era a chance de algo especial.

Vick analisa a proposta, e a acha absurda tendo uma reação intensa, julgando Juan um convencido, enquanto Cristina responde que adoraria ir a Oviedo, mas que não garante que vai fazer amor. Ela acha a abordagem de Juan interessante, por ele ser diferente, nada convencional, bonito, sexy, criativo e artístico. Cristina diz que devemos ter medo de nós mesmos. Vick não concorda com a escolha da amiga, e a considera neurótica, mas as duas acabam voando com Juan para Oviedo.

Lá, depois de se hospedarem em quartos separados eles passeiam pela cidade. Ele as leva até a Igreja para ver a escultura de Cristo crucificado que ele apreciava e diz que ele não é religioso e seu lema é curtir a vida aceitando que ela não tem significado. Cristina acha que o amor autêntico dá significado à vida. Ele diz que o amor é fugaz e que amara muito uma mulher que tentara esfaqueá-lo.

Ele como bom anfitrião as leva para almoçar, falaram sobre arte e romance e para ver os pontos turísticos, oferecendo a elas muitos doces. Vick permanece séria, cética e Cristina se diverte e desfruta, tirando muitas fotos.

O pintor continua convidando as duas para dormir, seduzindo-as como um bom Dionísio que é, e os três bebem vinho.

Vick diz muito aborrecida que é comprometida e tem um noivo que ama e que só estava ali por Cristina, e que não se interessa por sexo vazio, sem significado e vai dormir. Novamente sua reação exagerada esconde o medo de seus próprios sentimentos e a negação do desejo e da atração que sentia pela situação.

“Cristina aceita ir até o quarto de Juan e diz que ele tem que seduzi-la. Sei que não vou sossegar enquanto não achar o que procuro algo especial, diferente. Um amor antiintuitivo. Não sei o que quero só sei o que não quero.” Ela passa mal por estar bebendo e ter úlcera gástrica, que é uma distonia associada a ansiedade e ligada ao emocional, e tem que ficar de repouso.

Mesmo sem vontade, Cristina sai com Juan em programa turístico. Visita o Farol e fala de Vick que em sua opinião é imatura e irresponsável como uma adolescente, gostando de correr riscos. Ele a leva para conhecer seu pai que morava ali perto e que era um poeta que infelizmente não publicava sua obra o que chama muito a atenção de Vick. Segundo o filho ele odiava o mundo, porque os homens não aprenderam ainda a amar e esta era sua maneira de revidar. O velho pergunta de Maria Elena sua ex-mulher com quem continua tendo sonhos eróticos.

Juan lhe diz que antes de ser pintor queria ser escritor ou músico pois sempre quis expressar-se sua emoção real através da arte. Isso o aproximava de Cristina.

O noivo de Vick liga quando ela estava jantando e bebendo vinho à luz de velas com Juan e ela fica nervosa. Ele a convida para ouvir guitarra espanhola e ela se emociona. Juan diz que Maria Elena sempre faria parte de sua vida, mesmo negando que ainda a ama. Eles se beijam e fazem amor.

Na volta para Barcelona, Vick não conta a Cristina sua aventura com o pintor. Já está apaixonada e projeta nele os aspectos que ela reprimia.
Vick se concentra em seus estudos e Cristina sai pelas ruas experimentando sua nova forma de auto-expressão a fotografia.

O noivo de Vick propõe que elas se casem em Barcelona, ela reluta mais aceita.

Juan convida Cristina para uma degustação de vinho e depois ir á sua casa ver seus trabalhos. Ele fala do seu casamento com Maria Elena. Eles fazem amor. Começam a sair várias vezes.
Ele era cordial com as prostitutas, indicando sua liberalidade. Seus amigos eram poetas e intelectuais. Juan convida Cristina para morar com ele.

Juan tem um encontro casual com Vick que o questiona a respeito de seu silencio e diz que apesar de saber que este era um comportamento comum para ele, se sentia frustrada. Ele responde que não queria causar mais confusão já que ela estava para se casar e que estava encantado com Cristina.

O noivo de Vick chega e percebe que ela está diferente, mais presente.

Em um encontro dos dois casais Vick e Juan conversam novamente e ele diz que ela era o oposto dele e que Cristina combinava mais e estava apaixonado por ela. Vick diz que está perdida e confusa com seus sentimentos.

A sua escolha é se casar com seu noivo.

Cristina experimenta a vida com Juan e gosta. Está feliz com a sua paixão. Continuava a escrever e fotografar. Sente que sua alma é européia, pois era ligada nas artes e na literatura, ao contrário de Vick que era muito racional e prática, portanto mais americana.

Nesse ínterim Maria Elena, ex-mulher do pintor tenta se matar e ele a traz para sua casa. Ela bate de frente com Cristina.

É uma mulher belíssima, talentosa, passional, possessiva, sedutora, fálica, temperamental e de comportamento violento.

Maria Elena diz que ele a procura em todos os seus relacionamentos e que gosta até de suas mudanças de humor e copia sua arte.

Cristina a observa pintando com adniração. Elena está muito insegura. Juan a obriga a falar em inglês para que Cristina entenda.

Cristina, Juan e Elena fazem um passeio no campo. Os três reconhecem suas afinidades.

Cristina acha que não tem talento e se desvaloriza. Elena a incentiva e diz que suas fotos são maravilhosas. Elas saem pela cidade fotografando e Elena dá muitas dicas para Cristina. Elas montam um laboratório para revelar as fotos.

Vick está entediada com Mark. Em uma festa ela vê Judy beijando o sócio do marido. Ela confessa que não era mais apaixonada pelo marido e apesar de amá-lo era infiel no casamento, vivendo assim na Máscara.

Elena se apaixona por Cristina e diz a Juan que o amará para sempre mais que Cristina era o que faltava na relação. Ela aprende a dividir Juan com outra mulher e os três se transformam. Elas duas se amam. Um amor homossexual que se assemelhava à espontaneidade infantil.

É a aceitação do amor em sua plenitude. Eles tinham se tornado amantes em harmonia.

Os pensamentos de Cristina se sobrepõem aos sentimentos e a antiga insatisfação aparece. Ela diz que quer algo diferente. Elena fica apavorada e reage dizendo que ela não os ama.

Juan pede: Vamos nos lembrar do outro com respeito.

Cristina decide ir para a França para refletir. Ela se encontra com Vick para contar sua decisão.

Vick continua apaixonada por Juan e confessa seus sentimentos para Judy, que se identifica e projeta suas fantasias de liberdade na amiga.

Maria Elena e Juan voltam a brigar depois que Cristina vai embora e ela decide deixá-lo.

Vick se reencontra com Juan, através de um ardil de Judy, que serve de ponte entre os dois. Ele não perde tempo em seduzi-la e a convida para passar uma tarde com ele. Ela aceita e fica bem atraente para ele, o que representa uma transformação para uma mulher sedutora.

Elena chega de surpresa, fora de si, e tenta matar os dois. Juan a trata com muita paciência maternal. Ela é uma boderline do ponto de vista psicológico. Vive na fronteira entre a neurose e a psicose.
Vick se fere na mão por acidente, no ato explosivo de ciúmes de Elena.

Após sua recuperação, Vick revela a Cristina sua relação com Juan. E Cristina compartilha sua decisão de retornar ao seu país.

O filme aborda com novas possibilidades o amor livre que  rompe com as normas e regras estabelecidas pela sociedade com seus padrões de comportamento prédeterminados,  rígidos e convencionais, reprimindo  os desejos e fantasias sexuais, criando uma cisão entre o corpo e a alma que necessita de liberdade para ser criativa e expressar o Eros que é o desejo ardente de amar.

Através do relacionamento com Juan, um homem liberto dos padrões normóticos, um transgressor, Vick e Cristina puderam transpor alguns comportamentos e desejos reprimidos.

Durante o filme o surgimento de muitos conflitos, promove um processo de transformação e de autoconhecimento para todos. Vick e Cristina eram complementares em sua forma de ver o mundo, e durante o filme cada uma vai desenvolvendo o que faltava em si. Vick desenvolve os sentimentos e Cristina a razão. No auge do conflito os opostos se encontram. É o TAO.

Vick manteve a escolha pelo casamento, mas com a experiência, trouxe mais maturidade e se torna mais mulher.

O filme tem um tom de comédia e drama, apresentando a cidade de Barcelona com todo seu charme, beleza e sua diversidade cultural e artística. Cenários belíssimos e obras de arte que vão da escultura do Cristo gótico em Oviedo às obras de vanguarda modernista do arquiteto Gaudi e Miró: a Catedral da Sagrada Família, o parque Guell, a sonoridade da música catalã. Podemos observar a contradição entre a personalidade externa de Vick muito rígida e conservadora e sua paixão por artistas de Vanguarda como Gaudi e Miró.

“Não sei quem eu sou, mas tenho certeza do que não quero ser.”

sábado, 3 de julho de 2010

Uma homenagem da poetisa Rita Quadros, em celebração ao tema do amor, em 18 de junho de 2010.

Por que precisa de versos
Para lutar com Thanatos
E fazer vencer Eros
Se ele já está em ti.

Toda poesia não é erótica?
Não toca a alma?
Toda alma não é erótica?
Não toca a vida?

Eros derrama versos
Em sua beleza
Escute-os e declame-os

Faça-se poesia
Toque a alma
Toque a vida!

Esse poema de Silvério Duque está em seu livro: "A pele de Esaú", lançado recentemente em Salvador e Feira de Santana.

  
O Beijo, por Auguste Rodin. 
(baseado na trágica história de amor entre Paolo e Francesca, 
Divina Comédia, de Dante Alighieri)

Erotismo

E o que eu adoro em ti é a tua carne,
porque tudo o que é vivo se deseja;
assim, desejo em ti o meu tormento
que há-de crescer na proporção do tempo.

O que eu almejo em ti é a tua sombra,
pois toda boca habita as mesmas vozes
que hão-de tecer com gritos o teu nome
na tarde azul tragada pela noite.

Beijo o teu rosto como se existisse
algum lugar pr’além do Precipício,
e, junto ao gosto de teu lábio esquivo,

uma palavra, sobrescrita em sangue,
há-de adornar o verso em que eu me esqueço
e há-de extirpar, do amor, a fúria imensa.

Recebi do amigo poeta Bernardo, esse lindo poema que contribui para o tema da metamorfose através de Vênus, a deusa do amor.

Rosa aberta
Bernardo Linhares

A brisa sopra a pétala da rosa,
expele o pólen em forma de botão.
Vênus desperta da alma de uma concha.
O céu parece a cauda de um pavão.

O azul renasce namorando a aurora.
O mar não cansa, pensa que é criança.
O mundo gira, gira cor de rosa.
O sol e a lua trocam de aliança.

Trazendo o belo aos que amam o verso,
a luz do dia chora de alegria.
Tudo é sereno sobre as rosas brancas.

Com elegância e delicadeza,
tornou-se a vida rútila e festiva.
Uma lagarta vira borboleta.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cinema no Consultório - Filme: Vicky Cristina Barcelona

Dia: 16 de junho (quarta-feira) - 19h
Investimento: R$ 15,00
Informações: 3271-3640 / 9201-0250 / 9972-4889

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Busca do Amor no Século XXI

Nosso Bate-papo é uma proposta de indagações sobre esse tema universal para o ser humano em sua trajetória de vida.

Iniciamos nossa reflexão pelo cartaz que divulgamos através de uma obra de arte de Lorenzo Mattotti, simbolizando o encontro entre o masculino e o feminino, cada um lendo seu livro.

Qual é a busca de cada um?
Quais são seus valores?
Como conciliar essas duas naturezas opostas e complementares?
Como se dá esse encontro a nível externo e a nível interno de alma?
Quem é esse Eros ou Cupido que nos flecha e que tanto desejamos ser flechados?
O que é a paixão?
Existe diferença entre amor e paixão?
O que o homem pensa e sente sobre a Revolução Feminina e sua repercussão nessa complementaridade?
Existe possibilidade de ressignificação do encontro Homem e Mulher em condições de igualdade, sendo de naturezas tão diferentes?
É possível amar verdadeiramente?

Para falar de amor, temos que recorrer aos poetas, amantes e místicos que se encontram nesse estado amoroso de inspiração, beleza e criatividade.

Entramos no reino da imaginação onde as Musas se tornam presentes e o Deus Eros com suas asas e flechas, brincalhão e assertivo escolhem seus eleitos para essa viagem no reino mítico de surpresas. Eros é um intermediário entre deuses e homens, dando asas ao mundo dos impulsos. É anjo e daimon. “É o desejo ardente.”

A Deusa Afrodite ou Vênus, sua mãe, nascida das ondas do mar, presenteia aqueles que abrem seu coração para o amor. É o arquétipo da beleza e da paixão.

Lembro do grande poeta, compositor e músico baiano, Caetano Veloso, pai do Tropicalismo, revolução de costumes, criada no Brasil nos anos 60, com um grupo denominado Os Doces Bárbaros, cantando e dançando, numa alegria indescritível e desejo de mudança.

“O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar!”.

Essa revolução marcou uma busca por novas idéias libertárias, indagando sobre os caminhos das relações amorosas e do processo de construção de um novo homem e de uma nova mulher e consequentemente uma nova família.

Esse movimento surgiu como um balão de oxigênio numa época repressora da ditadura militar nos anos 60. Caetano gritava “é proibido proibir” e naturalmente foi exilado como todos que tentaram quebrar os valores tradicionais. Não se evolui sem perdas necessárias ao desenvolvimento da consciência, que é individual e se reflete na sociedade.

Ainda no século XX, o casal de escritores e intelectuais franceses, Sartre e Simone de Beauvoir, criaram a filosofia humanista existencialista, baseada em idéias libertárias e no amor livre, respeitando o limite da individualidade.

Simone de Beauvoir escreveu uma pesquisa sobre a condição feminina em suas várias dimensões, psicológica, sexual, social e política, propondo um novo caminho para a mulher e para ambos os sexos.

Em seu livro: “Uma Experiência Vivida”, De Beauvoir cita: “o certo é que até aqui as possibilidades da mulher foram sufocadas e perdidas para a humanidade; já é tempo no seu interesse e de todos, de deixá-la enfim, correr todos os riscos, tentar a sorte”.

No final de sua pesquisa, ela afirma: “é dentro de um mundo dado que cabe ao ser humano fazer triunfar o reino da liberdade; para alcançar essa suprema vitória é, entre outras coisas, necessário que para além de suas diferenciações naturais, homens e mulheres afirmem sem equívoco sua fraternidade”.

Simone de Beauvoir foi pioneira ao movimento feminista e o casal trouxe um novo modelo de relacionamento. Nessa época, ainda não havia o movimento feminista numa forma radical e impulsiva de contestação ao masculino, onde a mulher vivencia um modelo competitivo com o homem, perdendo sua feminilidade, vestindo ternos, cortando cabelos e se dedicando de corpo e alma ao seu trabalho profissional como busca de uma nova identidade.

Esse movimento criou a nova mulher?

Na visão Junguiana, o ser humano possui as duas polaridades masculino e feminino, sendo dominante uma delas que corresponde ao seu sexo. Cada um tem que integrar o oposto em si mesmo no sentido de busca de equilíbrio numa visão holística, de inteireza. Penso que essa teoria é contemporânea e pode nos auxiliar nessa busca de igualdade de direitos e diferenciações naturais.

A mulher moderna que está integrando seu animus ou sua masculinidade interior, não precisa competir com os homens nem adotar qualidades masculinas para se expressar, isto é, identificar-se com o modelo masculino. Ela reconhece a presença de qualidades masculinas dentro dela, assume sua própria autoridade e mantém-se fiel à sua natureza feminina. Ela não pode ser capaz de mudar o sistema patriarcal em volta dela, mas o que é mais importante, ela não permite que o sistema a modifique.

A Psicologia Analítica, Humanista, de C. G. Jung, parte do princípio que só podemos nos desenvolver plenamente, quando integramos nossa individualidade e nossa capacidade de nos relacionar. Esse processo é chamado de “Individuação” que é uma busca de desenvolvimento da consciência através do autoconhecimento e de outros métodos libertários que cada um escolhe para expressar sua singularidade ou criatividade.

O homem precisa integrar o seu feminino interior, arquétipo da anima que se encontra no seu inconsciente ou subjetividade; e a mulher, o seu masculino interior, animus. Quando cada ser humano empreende essa busca, o relacionamento com o outro sexo se torna mais harmonioso, já que não precisa projetar no outro a sua própria alma.

O outro serve de espelho para que essa tarefa grandiosa possa ser realizada pelo casal, exigindo muito amor, paciência, compaixão, virtudes que vão sendo adquiridas à medida que a personalidade amadurece e a capacidade de amar evolui.

Essa teoria psicológica que inclui o inconsciente pessoal, repositório de nossos conteúdos reprimidos, os complexos, e o inconsciente coletivo, os arquétipos, nossa herança universal, nos convida ao autoconhecimento, a entrarmos em nosso inconsciente para pescarmos as pérolas de uma compreensão maior de nossa integridade e criar um relacionamento saudável consigo, com o outro e com a sociedade.

Eric Fromm, psicanalista, em seu livro “A Arte de Amar”, coloca o amor como uma Arte que exige concentração, cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento sobre si mesmo que se revela para o outro.

Na filosofia de Platão, da Grécia Antiga, conta o mito do androginato, através do discurso de Aristófanes, no Banquete: “No início da criação, os seres humanos eram inteiros, perfeitos e redondos. Em represália à insolência desses seres, Zeus, o líder dos deuses, cortou-os ao meio. E assim iniciou essa procura ansiosa de sua antiga metade, pela humanidade.”

“O amor é uma espécie de loucura, disse Platão, uma loucura divina!”

“Quando arrebatado de amor, um ser humano olha a pessoa que ama, é sua própria imagem que ele vê nos olhos de seu amado (a).”

Podemos transpor essa idéia antiga para nossa época, na teoria de espelhos, onde vemos no outro nossa própria alma e nos apaixonamos. Quando a paixão acaba, é o momento da desilusão, de separação ou possibilidade de transformar esse relacionamento em diferentes formas de amar.

Existem muitas possibilidades de amor:

O amor Pornéia refere-se ao amor do bebê por sua mãe – “ele a come”. Ele gosta do seu leite, do seu calor, do objeto materno.

Esse tipo de amor também ocorre no ser humano, “um bebezão que devora”, um exemplo de amor que não evoluiu. Um amor que não parou de mamar, de consumir o mundo, os outros, o corpo.

Nesse estágio, trata-se de um instinto de sobrevivência, uma pulsão, um apetite vivenciado como uma necessidade de alimentar-se do outro.

O amor Eros é que vai dar asas à Pornéia, aquele que vai introduzir inteligência na pulsão. Eros é a atração e o desejo de se unir ao corpo, de fusão. O amor torna-se inteligente, e pode transformar as pulsões, desejos instintivos, emoções fortes em sentimentos belos. O ser humano ganha asas.

O amor Philia é o amor amizade. Trata-se de um amor de intercâmbio, do compartilhar, da troca do dar e receber. A amizade não é da ordem da utilidade, supõe uma atitude de acolhimento, um amor fraterno.

O amor Ágape é o amor gratuito, que não se espera nada do outro, é altruísta. É o amor divino. “Quem ama é o ser divino presente em nós”. É o eu que se abre para o self. Abrimo-nos para aquele que ama em nós. É o divino que encontra o divino no outro. O Ágape implica uma vontade de amor, da fonte divina.

Um exemplo desse amor é ressaltado no Cântico dos Cânticos, hino bíblico onde Salomão e Sulamita se enlaçam conciliando o desejo mais carnal e a transcendência mais sublime. É colocado em versículos através de versos poéticos.

Jean Yves Leloup em seu livro “Uma Arte de Amar para nossos Tempos” sugere a indagação: “É preciso encontrar um belo objeto para amar ou é preciso reencontrar a capacidade de amar em todas as circunstâncias?

Rainer Maria Rilke, em “Cartas a um Jovem Poeta”, dizia que as pessoas jovens, iniciantes em tudo, ainda não podem amar: precisam aprender o amor com todo o seu ser e o tempo de aprendizado é sempre um longo período de exclusão, de modo que o amor é por muito tempo, ao longo da vida, solidão, isolamento intenso e profundo para quem ama."

“Amar outro ser humano é talvez a tarefa mais difícil que a nós foi confiada, a tarefa definitiva. A prova e o teste finais; a obra para a qual todas as outras não passam de mera preparação.”

Na visão platônica, a essência consiste em inspirar nos homens o desejo de possuir o que é belo e o que é bom, não apenas momentaneamente, mas para sempre.

A fonte do pensamento de Platão é o filósofo Sócrates, pai do autoconhecimento, anunciador da máxima “Conhece-te a ti mesmo”.

Creio que essas metamorfoses que todos estamos passando, com aceleração no início do século XXI, de busca de uma nova identidade, têm como base o processo de individuação que é a busca de você se tornar aquilo que você é em essência e ser uma pessoa criativa, realizando sua singularidade.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor possessivo, dominador, pelo amor de troca, de comunhão ou aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século.

Quanto mais o indivíduo for responsável por suas escolhas pessoais, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado.

Todas as pessoas deveriam experimentar sua solidão para vivenciarem um diálogo interno ou subjetivo com seu centro ou essência e descobrir sua força e poder pessoal, que só podem ser encontrados dentro dele mesmo, e não a partir do outro.

O amor de duas pessoas inteiras é a busca do relacionamento saudável no século XXI.

Referências Bibliográficas:
C.G. Jung – Memórias Sonhos Reflexões
C.G. Jung – O Homem e Seus Símbolos
Platão - O Banquete, Tradução do Prof. J. Cavalcante de Souza
Simone de Beauvoir – O Segundo Sexo, Uma Experiência Vivida
Eric Fromm – A Arte de Amar
Thomas Moore – Cuide de Sua Alma
Thomas Moore – O Que São Almas Gêmeas
Jean Yves Leloup – Uma Arte de Amar para os nossos Tempos
Jean Yves Leloup – Amar apesar de Tudo
Jean Yves Leloup – O Essencial no Amor
Rainer Maria Rilke – Cartas a um Jovem Poeta

Indicação de filmes:
Vicky Cristina Barcelona – Direção: Woody Allen (2008)
As Pontes de Madison – Direção: Clint Eastwood (1995)
E o Vento Levou – Direção: Victor Fleming (1939)
Assédio – Direção: Bernardo Bertolucci (1998)
O Amante – Direção: Jean-Jacques Annaud (1992)
Asas do Desejo - Direção Wim Wenders (1987)

Verusa Silveira
Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana
Coordenadora do Núcleo de Estudos Junguianos – Bahia (1988)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Bate-papo: O Encontro Amoroso

Data: 09 de junho (quarta-feira) - 19:30h
Evento: Gratuito (confirmação prévia)
Informações: 3271-3640 / 9201-0250 / 9992-0061

Interpretação do filme Avatar

“Quando eu estava no hospital para veteranos,
com um vazio no centro da minha vida,
comecei com esses sonhos sobre voar: Eu era livre...”

O Filme Avatar nos leva a um mundo espetacular criado pela Imaginação Criadora de James Cameron e faz-nos entrar com ele, nessa grande fantasia de Ficção Científica, abordando o futuro do Planeta Terra.

Em 2051, o nosso Planeta, com seu Ecossistema devastado e quase todo destruído pela ação humana, parte definitivamente para a conquista do espaço. O lema destruir e ocupar, do antigo modelo colonialista imperialista, que acompanha a história da humanidade, continua valendo, ocultas sobre as novas e quase invencíveis armas da avançada tecnologia bélica. O discurso egóico inflado com a certeza ilusionária da superioridade humana sobre os outros seres vivos, alienígenas ou não, continua dando energia a uma sociedade militarista em busca de lucros e poder. O desrespeito por todas as formas de vida: animal, vegetal e mineral continua prevalecendo. Um mundo dissociado, fragmentado e sem alma, onde a mente analítica e a razão ainda dominam.

É nesse contexto que ocorre a descoberta de Pandora, uma das luas de Phobemius, que órbita a Constelação de Alpha de Centauros, distante da Terra aproximadamente 6 anos de viagem no espaço. Pandora transforma-se em mais um desafio de conquista militar para extrair um precioso minério, o Unobtanium, que resolveria o problema de energia na Terra, e faria fortunas incalculáveis, conquistando os nativos do planeta os Na’vi, que eram considerados primitivos.

Avatar conta a Jornada Iniciática de um Herói, Jake Sully, que representa simbolicamente toda a humanidade. A missão heróica é a busca de autoconhecimento, que é chamado de Processo de Individuação na Psicologia Junguiana. Durante a trama podemos observar as várias fases desse processo, que é a transformação do Ego, em seu caminho para o Self. . O filme utiliza uma linguagem simbólica e arquetípica, própria do inconsciente.

A Jornada sempre inicia com um conflito e uma escolha que deflagra o Nascimento do herói. Jake Sully tendo escolhido a vida militar, verá seus sonhos desmoronarem depois de ter sido ferido em combate ficando paraplégico. Sincronicamente seu irmão gêmeo, Tom que era um intelectual e cientista, perdera a vida em um estúpido assalto. Dois irmãos gêmeos, com escolhas polares: a ciência e a guerra, seus destinos se encontram novamente. Um morre para o outro renascer.

A atmosfera de Pandora era inapropriada para a sobrevivência humana, e isso gerou a necessidade do desenvolvimento de um projeto científico de altíssimo nível e custos, contando com os mais gabaritados cientistas da Terra, entre os quais Tom, para o trabalho de exploração do novo planeta e aprendizado sobre o povo Na`vi.

Um Avatar é um humanóide hibrido de DNA humano e extraterrestre. Cada humano que cede seu material genético é um Piloto de Avatar e se conecta com ele através de seu sistema nervoso. Jake por ser irmão gêmeo de Tom, recebe a proposta dos militares de tomar o seu lugar no projeto, evitando a perda do investimento financeiro.

Em Pandora, Jack conhece o Chefe da Segurança, homem tirano e déspota, com seu discurso egóico centrado no poder e na hierarquia. Personagem representante da Sombra está contida nele, toda maldade, insanidade, frieza, falta de ética e de moral. Dissociado de suas dimensões profundas, sem alma, vivia exclusivamente no mundo dos instintos. Seu lema era destruir, assimilar e conquistar.

No Biolaboratório, Jack é mal recebido pelo Chefe do Projeto, a botânica Grace Augustine que o julga incompetente e incapaz para compor a sua equipe, onde seria uma espécie de segurança. Ela é considerada uma lenda: mulher com um animus forte, traços de natureza yang, enérgica, masculinizada e entronizada em seu lugar de mando e poder, assumindo e identificando-se com sua Persona. Seu lado racional, cientificista falava sempre mais alto. A todo o momento Grace é relembrada que o principal objetivo do programa científico era diplomático e visava melhorar a relação com os Na’vi e fazer com que cooperassem na exploração do Unobtanium que se encontrava em todo subsolo do planeta e principalmente abaixo da Grande Árvore que servia de habitação coletiva dos nativos.

O modo de fazer a conexão com o Avatar era: “relaxe e deixe sua mente vazia” quando o homem dorme e entra em estado alterado, sua Consciência se transfere para o corpo do Avatar, animando-o e quando este dorme o corpo do homem acorda. Podemos ver nessa imagem simbólica a imersão no Inconsciente através dos Sonhos que ocorre conosco todas as noites. Pandora é o inconsciente, a grande Matrix da vida, que nos convida a uma nova realidade. Através do mergulho em nosso mundo interno, por meio dos sonhos, das fantasias, das imagens, das artes (música, poesia, literatura), dos contos, dos mitos, se realiza o processo de autoconhecimento. A dialética entre os opostos consciente e inconsciente, interior e exterior, realidade e fantasia promove a transformação. Podemos dizer então que simbolicamente Pandora é a Grande Mãe, o vaso e continente, aonde o herói, Criança Promessa, irá ser gestado.

Além de tomar o lugar do irmão Tom no projeto Avatar, Jake deveria ser um espião, um informante, se infiltrando entre os Na`vi para ganhar sua confiança e descobrir suas fraquezas e caso eles não cooperassem seriam destruídos. Tornando-se traidor, seria recompensado com uma neurocirurgia que reaveria o movimento de suas pernas. Observamos aí o Herói cara a cara com sua Sombra, àqueles conteúdos da nossa psique que desejaríamos que não existissem que são reprimidos, negados e esquecidos. É preciso entrar em contato com nosso lado escuro para aceitá-lo e integrá-lo. No filme temos um herói bem humano, com sombra: um herói que transgride. A função do herói é a união das Polaridades, equilíbrio dinâmico em busca da inteireza. Tipicamente o herói é aquele que se encontra em desvantagem no momento, no caso um deficiente físico que simbolicamente representa a Função Inferior, aspectos que não foram ainda desenvolvidos na consciência.

Um Na`vi tem mais de três metros de altura, pele azulada, uma cauda em prolongamento da coluna vertebral e fisionomia ligeiramente felinas, olhos com íris amarela e um esqueleto formado de fibras de carbono que lhe permite uma flexibilidade incrível. Além de um físico forte, seus sentidos são muito desenvolvidos, possuindo uma espécie de Crina de Cabelos que funciona como um órgão de conexão neuronal com os outros seres do planeta.

Jake apesar da falta de treinamento se conecta com facilidade com seu Avatar. Sua imagem corporal estava fragmentada pelo trauma do acidente que sofrera e ao fazer conexão encanta-se com as possibilidades do novo corpo. A nova identidade corporal lhe permite possuir novamente domínio das suas pernas, experimenta a liberdade de mover-se, de correr, de sentir o chão sobre os pés, a terra.

Em sua primeira exploração em Pandora, acompanhado da equipe científica, Jake armado, sai impelido pelo espírito de aventura, investigando o ambiente desconhecido. Frente à ameaça de animais alienígenas, prepara-se para atacar e defender-se e comporta-se como a naturalidade de uma criança, o que faz com que não tenha noção do perigo que enfrenta. Acaba se perdendo dos outros.

Sozinho na Floresta, Jack passa pela sua Primeira Iniciação. É noite e ele defende-se com uma tocha de Fogo de animais ferozes, que tem seu território invadido, e mata para não morrer. É observado por uma mulher Na’vi, a princesa Neytiri, que recebe um sinal para não matá-lo e o defende, repreendendo-o severamente por sua atuação.

Jake recebe sincronicamente, uma Benção Divina, milhares de sementes da Árvore Sagrada das Almas, espíritos muito puros, o envolvem. Nesse momento constela-se o arquétipo do Escolhido, aquele que vem do exterior, para cumprir uma missão libertadora. Questionada sobre o motivo de tê-lo salvo ela responde que ele tem um ”Coração forte, sem medo, mesmo sendo estúpido e ingênuo como uma Criança”. A Consciência Humana é ainda infantil, sob o controle do Ego.

Neytiri é a filha do Chefe do Clã, o maior dos Guerreiros e da Xamã e sacerdotisa, aquela que interpreta a vontade de Eiwa, divindade feminina, representante da Grande Mãe que cultuavam.

Jake é iniciado num Ritual de Reconhecimento em que a xamã pergunta seu nome e o motivo pelo qual ele está ali; em seguida ela prova o seu sangue para sentir sua essência e afirma: “Te vejo”. É preciso em primeiro lugar ter um Nome, ser nomeado, isto é ter um rosto uma Identidade. O fato de ser Guerreiro o diferencia da equipe de cientistas e desperta o desejo daquele povo de conhecê-lo. Então vamos ver se sua loucura pode ser curada, diz ela.

Neytiri mesmo contra à vontade, é designada para proteger e ensinar a Jack ser um deles, seus costumes. Começa então o preparo do herói para realização das Provas Iniciáticas.

O Povo Na`vi, é uma sociedade matriarcal onde uma mulher ocupava o cargo de Xamã do clã e um Guerreiro Homem a liderança política no cargo de Rei, protetor e gestor da paz. Cultuavam uma divindade espiritual que chamavam de Eiwa, presente em todas as manifestações de vida vegetal e animal e no ambiente físico do planeta. Eiwa é uma espécie de Grande Mãe arquetípica, é a força que dá sustento e possibilita a ordem no mundo. Viviam integrados com a Natureza interna e externa, com o objetivo do “religare”, reconecção com o divino. Eiwa é a própria Pandora, que está viva. As raízes das árvores e de toda a vida vegetal de Pandora formam conexões eletroquímicas e efetivamente agem como neurônios, criando uma rede cerebral com Consciência. Faziam parte de uma Grande Teia de Intercomunicação e Hierarquia Entrelaçada. Eiwa ou a Deusa é o princípio básico, feminino, a anima ou alma do mundo.

Ao contrário de nós, os Na’vi integravam seus níveis de energia, vivendo em profunda Conexão com a Fonte da energia vital. Faziam isto através de uma extensão de seus cabelos, uma Crina, que conectavam com crinas de animais, com ramos da Árvore das Almas e com eles mesmos estabelecendo vínculos através do contato de terminações nervosas. Observamos aí uma integração de três níveis básicos: o primeiro com nossas raízes, com a terra, instintos básicos, o segundo com a vida relacional, com o outro e consigo mesmo, e o terceiro com a espiritualidade ou transcendência, o céu, a divindade e o sagrado. Rezavam em grupo em círculos. Faziam Mandalas de oração, de agradecimento e de cura.

A vida comunitária era baseada na igualdade e na fraternidade vivendo juntos em uma Grande Árvore Sagrada, que era seu Lar, sua aldeia.

Jake começa a viver uma vida dupla, como Humano e como Avatar. Recebe treinamento de Neytiri, para ser um Guerreiro Na`vi desenvolvendo concentração e foco, aprendendo a se movimentar na floresta pelas árvores. Jake dá informações e ensina aos militares a estrutura interna da Grande Árvore, traindo os Na`vi.

À medida que o tempo passa Jake vai ficando mais forte e mais adaptado. Aprende a caçar e atirar com o Arco e Flecha e a montar no Direhorse fazendo conexão com o animal. Vai aprendendo a linguagem da natureza e se integrando. Vê a floresta através dos olhos de Neytiri. Presencia um Ritual de Sepultamento, onde o povo reverencia o corpo do morto, que deve retornar à terra, pois toda energia é somente emprestada e um dia deve ser devolvida. A alma volta para Eiwa, assim como a dos animais que são mortos, com muita gratidão, para que seu corpo sirva de alimento.

No próximo Ritual, Jake tem que enfrentar uma prova de extrema coragem para se distinguir como caçador e Guerreiro. Ele sobe pelas Montanhas Flutuantes, até o ninho do Ikran ou Banshes que era um pássaro selvagem das montanhas e lá tem que escolher com o coração e ser escolhido por um deles, que tentaria de imediato matá-lo. O elo entre eles duraria até a morte.

O contato de Jake com Grace através do Avatar promove uma mudança no relacionamento aproximando-os e tornando-os amigos.

Jake vai se identificando cada vez mais com a sua nova vida em Pandora e já não sabe mais quem é. Depois de três meses, já no fim de sua missão, volta a se encontrar com o chefe dos militares, que lhe parabeniza pelo trabalho e diz que ele já pode ter suas pernas de volta. Jack pede mais um pouco de tempo, para se tornar um Na’vi e facilitar a negociação para a saída do povo da Grande Árvore.

Jack é preparado por Neytiri, para o Ritual de Confirmação, pois toda pessoa nasce duas vezes, a segunda é quando ele faz valer seu lugar entre seu povo para sempre.

À medida que prosseguia o aprendizado, através da relação com Neytiri essa amizade foi se transformando em um encontro de almas.

Jake foi se despojando das Máscaras, entrando em contato com suas emoções e sentimentos, com sua Anima, se interiorizando. Ela era o seu Auxiliar Mágico e ao mesmo tempo a sua figura feminina interior: a Anima, sua essência Yin. O relacionamento com ela vai abrindo seu coração para o amor e sua redenção. Realiza-se o casamento Alquímico, da união das polaridades masculinas e femininas. Jack e Neyriti, afirmam seu. Amor.

As máquinas chegam para destruir a Árvore das Vozes. Na aldeia Jake tenta explicar que o Povo do Céu vem destruir a Árvore e confessa à aldeia que já sabia do ataque, que foi um traidor e que tinha vindo como informante, mas que depois tudo mudou, pois agora ele é um deles. Neytiri revela que eles fizeram à conexão, transgredindo o seu papel de noiva de Tsutey. Ela e a aldeia não perdoam Jake que é aprisionado com a Dra. Augustine. A Grande Árvore é derrubada e os Na’vi fogem desesperados. O Rei é morto e passa o Arco do poder para a filha. A Xamã liberta Jack e pede ajuda. Na fuga o Avatar dele e da Dra. sáo desligados pelo general e eles são aprisionados. O povo Na’vi agora chefiado por Neytiri se refugia na Árvore das Almas.

Ajudado por seus amigos, Jack e Grace fogem de helicóptero levando o laboratório móvel de Conexão. Na fuga a Dra é gravemente ferida.

O herói está arrependido: “Eu era um Guerreiro que sonhou que poderia trazer a paz. O Proscrito, o Traidor, o Alienígena, eu estou num lugar em que os olhos não podem ver. Eu precisava da ajuda deles e vice-versa, agora para encará-los é preciso fazer tudo diferente”. Neste momento de reflexão cara a cara com seu passado que não podia mudar, e com sua Sombra, o nosso Herói parte para a Ação de Reconstrução Interna, não se deixa derrotar, levanta a cabeça e luta. Reúne as formas de como mostrar que se arrependera que pode fazer diferente e que agora merecia novamente confiança. Primeiro é preciso mostrar para ele mesmo sua capacidade, sua força e por isso arriscando sua vida procura e encontra o Grande Leonopteryx e montando-o tenta com ele uma conexão que é aceita. Simbolicamente podemos dizer que fazemos contato com nossas entranhas, nossos instintos que nos move para a mobilização. Jake retorna vitorioso a Árvore das Almas como Turuk Makto, e é recebido com espanto por todos. “Eu vejo quem você realmente é”, Neytiri o perdoa e o acolhe e reafirmam seu vínculo de amor. É a morte alquímica do Velho Rei que deve ceder o lugar para o Novo Rei que o assume como um novo centro, ou novo Self.

Jake pede ajuda para salvar Augustine e leva seu corpo humano para junto de seu Avatar, sob a Árvore. Realiza-se um Ritual de Reanimação em que a Xamã e todo o povo unidos em um único fluxo de energia, conectados com Eiwa, tentam trazer a alma do corpo da Dra. transmigre definitivamente para o seu Avatar. Para isso ela tem que passar pelos olhos de Eiwa, mais é inútil.

Jake pede a ajuda de Tsu’tey, e conclama o povo para uma rebelião: "E nós vamos mostrar ao Povo do Céu, que não podem tomar o que eles querem. E que esta é a nossa terra!". Os Clãs sáo mobilizados. Jack vai à Árvore das Vozes e pede a Eiwa que os ajude, e Neytiri lhe diz que a Mãe natureza não toma lados, apenas promove a manutenção do equilíbrio da vida. A Batalha Final começa: os terrestres com suas armas de fogo e os Na’vi com seus métodos naturais.. Em dado momento os animais de Pandora aparecem de todos os lados para salvar o planeta em sinal de que Eiwa atendera ao pedido de Jake.

A batalha entre o bem e o mal, começa entre o coronel e Neytiri, que é salva por Jack. Os dois se enfrentam até que o coronel quebra um dos vidros do laboratório e desacorda Jake. Agora é vez de ela o salvar, matando o coronel e reanimando o corpo humano de Jack que diz ao acordar: “Te vejo.” Nesse momento ela demonstra que o ama como ele é verdadeiramente, humano.

Os humanos são expulsos de Pandora.

No laboratório, no dia 24 de agosto de 2154, data do seu nascimento, Jake realiza um Ritual de Despedida, pois escolhera viver definitivamente em seu corpo de Avatar. Todo o clã e a Xamã estão novamente em sintonia com Eiwa, para que a Consciência de Jack transmigrasse definitivamente para o seu Avatar, ele iria nascer novamente. O encontro com o Self é exatamente um renascimento simbólico. É a Transcendência e união com o Cosmos Unus Mundus, visão unitária onde não há separação entre mundo externo e interno, equivale a uma visão de totalidade psíquica, universal. Ele havia reencontrado sua Inteireza.

No nível da Psicologia Junguiana, podemos relacionar os personagens arquetípicos do filme como pertencentes a nossa própria subjetividade. Assim Jake seria o nosso Ego em transformação em seu caminho para a transcendência. Seria o nosso Guerreiro Interior. O Coronel nossos conteúdos de sombra, Neytiri nossa anima, essência feminina interior, o auxiliar mágico para a inteireza, e Augustine o animus feminino.

Na mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar dos céus o segredo do fogo e entregá-lo à humanidade. Epimeteu, cujo nome significa ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa. A caixa de Pandora foi então aberta e de lá escaparam a Senilidade, a Insanidade, a Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, a Fome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e tomaram miserável a existência dos homens a partir de então. Só restou dentro a Esperança, uma criatura alada que estava preste a voar, mas que ficou aprisionada na caixa... e é graças a ela que os homens conseguem enfrentar todos os males e não desistem de viver. Podemos dizer que Pandora é a Esperança, de que a Humanidade desperte a tempo de salvar a espécie. Que o Ser humano retome seu verdadeiro lugar na trilha da evolução buscando a reunião de suas partes fragmentadas, através da integração das polaridades, equilíbrio dinâmico dos opostos, em busca de uma Nova Inteireza, que possa trazer Paz e Luz para o planeta Terra. Pandora é também uma Lua que é um símbolo do feminino da deusa e da anima mundi como elementos essências na nova pedagogia do SER.

Avatar é uma manifestação corporal de um ser imortal, segundo a religião hindu, por vezes até do Ser Supremo. Refere-se a um Ser espiritual, divino, encarnado, e, portanto todos nós somos um Avatar em potencial para ser despertado, através do desenvolvimento da Consciência.

“Cedo ou tarde, temos que despertar.”
 
Márcia Silveira Costa Hita
Médica e Psicoterapeuta Junguiana, Membro do Núcleo de Estudos Junguianos - Bahia e do Colégio Internacional dos Terapeutas (CIT - Unipaz-BA)