quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Jung e as Festas Populares da Bahia

Um babalaô me contou
Antigamente os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria
Eles eram respeitados por causa da sua força.
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os atos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou.
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tornaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu.
Sobre a mudança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração,
Para oferecer-lhe homenagens.”

A Psicologia Junguiana é fundamentada nos arquétipos, imagens psíquicas primordiais, originais, conteúdos do inconsciente coletivo, comum a toda humanidade. A descoberta dos arquétipos restitui o ser humano à sua interioridade e aos seus mistérios através da sua relação com os deuses.

Os orixás são representados pelos quatro elementos da natureza: Terra, Água, Ar e Fogo. Cada um desses elementos corresponde às quatro funções de orientação da consciência do ser humano: Físico, Emocional , Mental e Espiritual.

Com esse espírito de pesquisa arquetípica e ‘antenado’ nas tradições da Bahia, o Núcleo de Estudos Junguianos abre esse espaço para o ciclo de festas populares, que se inicia em 4 de dezembro, com a deusa dos ventos, raios e tempestades, Oiá-Yansã, no Candomblé; e Santa Bárbara na Igreja Católica.

Toda a fé do baiano se manifesta desde as comemorações dos orixás do candomblé, quando todos os terreiros da cidade batem seus tambores para seus filhos-de-santo dançarem, até as festas da religião católica, que ganham um cunho de celebração com muito samba-de-roda e barracas padronizadas que servem bebidas e comidas de azeite de dendê, caruru, vatapá, entre outras.

Esse clima de festas tem seu ápice na Lavagem do Bonfim, terminando no Carnaval.


“Epa Hey Oiá”, Yansã

Oiá foi mulher de Ogum e trocou-o por Xangô, mas sem romper totalmente os laços com Ogum. É representada como uma rainha guerreira, com uma espada em punho. Muito corajosa, é o único orixá capaz de enfrentar os eguns, espíritos dos mortos.

A nível Junguiano, ela representa o lado ativo do feminino, o “animus”, o princípio masculino no interior da psique feminina. Este arquétipo tem características de impulso criativo, empreendedor, objetividade, determinação, um grande senso de dever e forte convicção.

Características: temperamento forte, passional e autoritário. Uma de suas características mais marcantes é a sensualidade, voluptuosidade.
Cores: vermelho e branco.
Oferendas: acarajé e abará.
Saudação: “Epa Hey Oiá”.
Simbolismo: Espada, Chicote.
Dia da semana: quarta-feira, também dia de xangô, o deus dos trovões.

Calendário Oficial das Festas Populares:

04 de dezembro - Santa Bárbara / Iansã
08 de dezembro – N. Sra. da Conceição – Padroeira da cidade de Salvador
13 de dezembro – Santa Luzia
01 de janeiro – Procissão do Senhor Bom Jesus dos Navegantes
06 de janeiro – Festa da Lapinha ou Festa dos Reis
Segunda quinta-feira de janeiro – Lavagem do Bonfim
24 de janeiro a 2 de fevereiro – Nossa Senhora da Purificação
30 de janeiro – São Lázaro
02 de fevereiro – Iemanjá
11 a 16 de fevereiro - Carnaval 2010

* O Núcleo de Estudos Junguianos - Bahia realizou Seminários com os arquétipos dos Orixás afro-brasileiros criando correspondências com a Teoria da Psicologia Junguiana.

Coordenação:
Dra. Verusa Silveira 
Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana/ Coordenadora do Núcleo

Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera

Diretor sul-coreano: Ki-duk-Kim
O filme trata do processo iniciático de um garoto conduzido por um velho mestre zen budista. Na Psicologia Junguiana, chamaríamos de Processo de Individuação, isto é, de autodesenvolvimento da personalidade, que inicia no nascimento e se desenvolve em ciclos e fases, até a morte.
Utilizando o paralelo entre as etapas da vida do ser humano e as estações do ano, o filme estabelece uma relação simbólica entre as duas.
                                                                                     
Escolhemos esse poema do mestre Taoísta chinês Liu Pai Lin para sintetizar essa história.

A Terra segue o Céu
acompanha seu fluxo de Energia.
Por isso,
na Primavera, pode brotar,
no Verão, florescer,
no Outono, frutificar,
no Inverno, a Natureza se recolhe,
podendo iniciar
uma nova Primavera
e assim se renovar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cinema no Consultório, última sessão do ano!

Primavera, Verão, Outono, Inverno...
                                           e Primavera


Dia: 26 de novembro (quinta-feira) - Hora: 19h
Investimento: R$ 15,00 
Tel: 71 3271-3640/ 9201-0250/ 9972-4889

Assista o trailler!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cinema no Consultório.

Interpretação do Filme: A Partida.


A Partida: Okuribito
Elenco:
Msahiro Motoki (Digo Kobayashi)
Tsutomu Yamazaki ( Ikuei Sasaki)
Ryoko Hirosue (Mika Kobayash)

O filme conta à história de Daigo Kobayashi um jovem músico violoncelista, que vê os sonhos desfeitos, logo após uma apresentação da orquestra em que trabalhava. Muitas vezes acontecem na vida coisas que não queremos, não previmos, pois nosso destino segue por caminhos ocultos que nem sempre compreendemos naquele momento na perspectiva do Ego. Foi o que aconteceu com o protagonista de nosso filme. Sincronicamente sua Individualidade atraíra situações que o forçava a mudar, ir em busca de um novo caminho. Desempregado e triste, sentindo-se derrotado e sem animo, ele tem agora que recomeçar. Como aceitar as perdas? O desapego é o grande aprendizado da vida. Desapegar primeiro das coisas materiais, dos desejos do Ego, das pessoas que amamos e finalmente o grande desapego que é a Morte...
Nós seres humanos vivemos imersos num mundo de polaridades: vida e morte, alegria e tristeza, perdas e ganhos, corpo e alma. Como aprender a transitar entre elas?

Daigo é casado com uma jovem, chamada Mika, com quem divide sua vida. Desiludido e endividado por ter comprado um violoncelo, ele propõe como solução a sua mulher mudarem-se para a cidadezinha no interior do Japão, onde nascera. Com espírito otimista, sua esposa que é uma Web designer, aceita e apóia a decisão do marido. Daigo ao contrário do que esperava se sente livre de uma obrigação ao vender seu violoncelo. Aquele poderia não ser seu verdadeiro sonho.

De volta à casa onde nascera ele relembra que seu pai o obrigara a aprender música e que fora criado sozinho por sua mãe desde os seis anos, depois que ele os abandonou.

Daigo vê um anúncio no jornal, procurando “profissionais que auxiliem jornadas’’, NK Agency. Pensando tratar-se de uma empresa de viagens ele vai apresentar-se. Ikuei Sasaki, o chefe do lugar, então lhe explica que na realidade ouve um erro de impressão e descobre que o trabalho envolve partidas em viagens de outra natureza. NK se refere à Noukan isto é Ritual de Acondicionamento dos Mortos no Japão, preparando-os para o enterro ou cremação. Apesar de perplexo resolve aceitar o emprego pelo salário.

"Noukan" é a tradicional cerimônia japonesa de colocar o cadáver no caixão. Primeiro o corpo é coberto para que seja retirado o quimono ritual, sem que a pele do morto seja exposta. Procede-se o tamponamento dos orifícios naturais (anus, boca, nariz), depois se inicia a limpeza e purificação do corpo que simboliza a eliminação do cansaço do mundo, da dor, do desejo, e também o primeiro banho para o novo nascimento. A musculatura do rosto é acomodada e a postura das mãos é arrumada. A roupa é novamente colocada com extrema delicadeza e cuidado. Depois dessa preparação o rosto é barbeado no caso dos homens e as mulheres penteadas e maquiadas. Tudo é feito na presença dos familiares, com movimentos precisos e delicados. O ritual é geralmente realizado em um cômodo especial onde havia um altar com flores e o retrato do morto. Os Noukan trabalham com muito respeito aos mortos e sua dedicação só torna o rito ainda mais bonito. Eles auxiliam a última viagem e a jornada do morto, a Individualidade, para a entrada na próxima vida.

A Partida trata do tema da morte que é muito complexo, e nos faz pensar sobre o sentido das coisas e repensar nossos valores. Vivemos em uma sociedade onde somos acostumados a considerar a morte como um tabu. Estamos sempre tentando nega-la e fingir que ela é um vilão que não irá nos alcançar. Essa crença profundamente deturpada da morte faz com que a temamos e o medo da morte está profundamente arraigado em nosso inconsciente.

Esta dissociação em que vive o ser humano resulta na perda de contato com as dimensões espirituais e sutis do SER, ignorando sua verdadeira natureza. A Ciência e sua visão materialista do mundo, da natureza e do homem, sua forma de pensar racional e linear foi uma das responsáveis por essa situação.

No filme entramos em contato com o arquétipo da Morte que representa a transformação, o próprio dinamismo da vida. É preciso que venha o fim, para que haja o espaço para o novo. Morte de crenças ultrapassadas, de comportamentos obsoletos, de atitudes, de modelos... Mudança.

Daigo resolve esconder de sua esposa a verdade sobre seu emprego. No dia de estréia ele serve de modelo para um DVD, sobre o Ritual de Acondicionamento. A experiência é aterrorizante para ele, pela proximidade com o mundo dos mortos. O primeiro cliente lhe causa profunda repugnância e asco, pois se trata de um corpo em decomposição há 10 dias. Ele fica traumatizado como se o odor e a sujeira tivessem penetrado nele para sempre. Dirige-se a uma antiga e conhecida casa de banho e reencontra uma amiga do passado. Na ausência da vida o corpo é visto como impuro, dejeto, resíduo, material desprovido de valor e significado.

O contato constante com a Morte ocasiona uma reação compensatória para Daigo e seu Mestre através de uma maior ligação com o lado animal, dos instintos e da Sombra humana, que é a polaridade oposta. Observamos uma maior voracidade em relação ao alimento (gula) e também ao sexo, que temos em algumas cenas.

O protagonista fica cada vez mais mobilizado, entrando em contato com sua história, e vem à tona sua criança ferida que fora abandonada por seu pai, de quem não recorda o rosto. Ele jamais pode perdoá-lo por isso guardando mágoas, rancores, raiva e dor. A música renasce dentro dele quando ele começa a tocar seu pequeno e velho instrumento. Nesse ínterim encontra a pedra que seu pai lhe dera quando pequeno.

Convivendo com seu mestre, ele começa a mudar de opinião sobre sua profissão. Daigo diz que não acredita em destino e o seu mestre lhe diz que sua profissão é um presente divino. Porém à medida que o tempo vai passando e que ele vai conhecendo e experienciando melhor o seu trabalho, uma profunda transformação vai se processando (vivenciando o arquétipo da morte em sua interioridade). Em cada ritual ele presencia as mais diversas reações das pessoas diante da morte, pois o ritual funciona como fecho biográfico para os familiares presentes que ficam profundamente agradecidos a eles. A postura respeitosa, calma, tranqüila, cheia de afeto e a delicadeza com que seu mestre realiza o ritual, a leveza e a reverencia com que o pratica, o vai tocando por sua pureza e beleza. Sendo um artista, um homem muito sensível, o significado profundo do ritual vai aparecendo para ele à medida que aprende detalhes da cerimônia e aos poucos ele vai descobrindo um novo olhar que revela a sacralidade do corpo que mesmo sem vida começa a ganhar importância e dignidade. O corpo é o templo da alma e é atravez dele que ela se expressa.

A negação da Morte e da impermanência da vida, distorce a realidade e ocasiona uma reação de defesa do Ego que se identifica cada vez mais com a Persona, com os papéis que representamos na vida. A morte é o fim de todas as máscaras é o desapego do Ego. É um momento de profunda transformação. A profissão de Noukan é vista com discrédito e preconceito.

A esposa de Daigo descobre tudo sobre suas mentiras e desprezando seu trabalho pede que ele o deixe; Daigo tem que fazer uma escolha, mas já está envolvido emocionalmente e então ela o abandona. Ele começa a se orgulhar dele e de seu papel de intermediário entre a vida e a morte, entre o falecido e sua família. Através do contato com a Morte ele descobre a maravilhosa alegria, a beleza, o prazer e o significado da vida e do viver.

O mestre e a secretária da agencia vão aos poucos se transformando em sua família. Algum tempo depois sua esposa volta para casa e lhe conta que está grávida, pedindo novamente que ele abandone a profissão. Então a Senhora da Casa de Banho morre, e Daigo é chamado para ser seu acondicionador. Presenciando o ritual, sua esposa fica profundamente tocada e muda de opinião aceitando a escolha do marido. No enterro, Daigo descobre a identidade do Senhor amigo da dona dos banhos que também trabalhava ajudando as pessoas a fazerem a passagem acionando o fogo do crematório. Sua figura no filme funciona como auxiliar mágico de passagem, sua presença centrada em palavras sábias: “A Morte é uma porta e não significa o fim. Viver o presente é se dirigir para o próximo estágio. Faça uma boa viagem, nós nos veremos logo”.

Daigo fala para sua mulher sobre o ritual da Carta da Pedra: antes dos humanos inventarem a escrita, eles buscavam uma pedra que significasse seus sentimentos e presenteavam a outra pessoa; quem recebia, percebia o que o outro sentia pelo seu peso e textura.

Então, sincronicamente, acontece de ser chamado pela morte de seu pai em uma cidade vizinha. Demonstra raiva e dor, extravasando todo seu pesar, descobre que a secretária do trabalho também tinha abandonado seu filho para seguir uma grande paixão. Depois de tantos anos o reencontro com seu pai morto, ele resolve acondiciona-lo. Então sua dor se transforma em compaixão e amor, tocando o corpo de seu pai, limpando, purificando e cuidando, ele pode reconstruir o seu rosto, dando a ele a identidade perdida há tantos anos, resignificando seu passado, curando suas feridas, transformando-as em cicatrizes sagradas. Ele fez contato com o self, o lugar da inteireza e cura. Em sua mão encontrou a pedra que ele ainda quando menino o havia dado, descobrindo que afinal ele nunca o esquecera. Quando no final sua esposa lhe entrega a pedra ele a devolve entre as mãos e a coloca sobre a sua barriga em um lindo gesto simbólico.

O título original “Okuribito” significa “enviar pessoas”, mas essa palavra não é comumente usada no Japão.

Se o filme é bom? O patrão diria que sim. Melancolicamente excelente.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

NOVO !

Grupo Terapêutico de Análise e Interpretação de Sonhos




O Núcleo de Estudos Junguianos Bahia realiza o Grupo Terapêutico de Análise e Interpretação de Sonhos que irá trabalhar as histórias das pessoas junto às narrativas e vivências dos sonhos, criando uma ponte entre consciente e inconsciente.

Objetivo: Fortalecer a psique ou alma e resignificação da trajetória de vida, através de técnicas de relaxamento, uso da imaginação e da criatividade, dinâmicas de grupo e expressão artística.

Coordenação: Verusa Silveira
Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta Junguiana. Formação em Psicologia Humanista e Transpessoal. Curso de Especialização em Psicologia Analítica Junguiana e Técnicas de Relaxamento. Criadora do Núcleo de Estudos Junguianos Bahia. CRM: 3006.

Quando: quintas-feiras, das 19 às 21h. Onde: sede do Núcleo de Estudos Junguianos.
Início: 01 de outubro de 2009.

Mais informações através dos telefones: (71) 3271- 3640 e 9201-0250.
Haverá uma seleção com entrevistas prévias. As vagas são limitadas.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cinema no Consultório

O fabuloso destino de

Amélie Poulain 



Data: 25 de setembro de 2009 (sexta-feira)    Hora: 19h
Telefones: (71) 3271-3640/ 9201-0250/ 9972-4889