segunda-feira, 19 de julho de 2010

Interpretação do filme Vick Cristina Barcelona

É a história de duas jovens americanas que vão para Barcelona, passar os dois meses do verão, julho e agosto: Vick e Cristina. Tinham os mesmos gostos em muitas questões, menos nas questões de amor onde seus pontos de vistas eram opostos.

Vick tem um temperamento mais realista e uma personalidade racional. É uma típica intelectual acadêmica e seu objetivo na viagem era concluir seu Mestrado Identidade Catalã, estando determinada a estudar todas as manifestações da arte e cultura deste Universo entre as quais as obras do arquiteto Gualdi e do artista Miró. Rígida, no papel de moça bem-comportada e avessa a aventuras, desconhece a verdadeira essência de seus sentimentos. Tinha escolhido um futuro que incluía o casamento com um bem sucedido homem de negócios de Nova York, de quem era noiva e esperava encontrar segurança, compromisso e seriedade nesta relação.

Cristina era do tipo sonhadora e aventureira, acreditava que o amor não se podia definir. Tinha uma personalidade sentimental. Sentia paixão pela vida, sendo liberal e aberta a novas experiências arriscando suas emoções. Sabia apenas o que não queria em uma relação. Ainda sem identidade profissional, almeja se expressar através das artes mais se sentia insegura e incapaz de realizar algo de realmente bom e belo. Escreveu, dirigiu e atuou em um filme de 12min que a frustrara e sua mais nova paixão era a fotografia.

Chegaram a Barcelona e foram hospedadas por um casal de meia idade, Judy e Mark, amigos dos pais de Vick, que com o filho já adulto e fora de casa queriam movimentar sua vida. Tinham uma boa situação financeira, vivendo em uma linda casa. A mulher, no entanto não era mais apaixonada pelo marido e apesar de amá-lo era infiel no casamento, vivendo assim na Máscara.

O casal levava Vick e Cristina à vários lugares da vida cultural e artística de Barcelona. Certa noite em na inauguração de uma Galeria de Arte, um homem chama a atenção primeiro de Cristina. Era Juan Antonio Gonzalo, um pintor, conhecido no meio artístico, que havia se separado recentemente de uma bela mulher tempestuosa que tentara matá-lo e vice-versa.

Mais tarde Vick e Cristina, se encontram sincronicamente com Juan em um restaurante onde foram jantar. Ele se aproxima das duas e convida-as para passar o fim de semana em Oviedo, para ver uma escultura que o inspirava muito. Vamos comer e beber um bom vinho e fazer amor nós três. A proposta é dionisíaca e ousada, de viver o prazer, alem de hedonista viver o presente, pois a vida é curta, monótona e cheia de sofrimento. Essa era a chance de algo especial.

Vick analisa a proposta, e a acha absurda tendo uma reação intensa, julgando Juan um convencido, enquanto Cristina responde que adoraria ir a Oviedo, mas que não garante que vai fazer amor. Ela acha a abordagem de Juan interessante, por ele ser diferente, nada convencional, bonito, sexy, criativo e artístico. Cristina diz que devemos ter medo de nós mesmos. Vick não concorda com a escolha da amiga, e a considera neurótica, mas as duas acabam voando com Juan para Oviedo.

Lá, depois de se hospedarem em quartos separados eles passeiam pela cidade. Ele as leva até a Igreja para ver a escultura de Cristo crucificado que ele apreciava e diz que ele não é religioso e seu lema é curtir a vida aceitando que ela não tem significado. Cristina acha que o amor autêntico dá significado à vida. Ele diz que o amor é fugaz e que amara muito uma mulher que tentara esfaqueá-lo.

Ele como bom anfitrião as leva para almoçar, falaram sobre arte e romance e para ver os pontos turísticos, oferecendo a elas muitos doces. Vick permanece séria, cética e Cristina se diverte e desfruta, tirando muitas fotos.

O pintor continua convidando as duas para dormir, seduzindo-as como um bom Dionísio que é, e os três bebem vinho.

Vick diz muito aborrecida que é comprometida e tem um noivo que ama e que só estava ali por Cristina, e que não se interessa por sexo vazio, sem significado e vai dormir. Novamente sua reação exagerada esconde o medo de seus próprios sentimentos e a negação do desejo e da atração que sentia pela situação.

“Cristina aceita ir até o quarto de Juan e diz que ele tem que seduzi-la. Sei que não vou sossegar enquanto não achar o que procuro algo especial, diferente. Um amor antiintuitivo. Não sei o que quero só sei o que não quero.” Ela passa mal por estar bebendo e ter úlcera gástrica, que é uma distonia associada a ansiedade e ligada ao emocional, e tem que ficar de repouso.

Mesmo sem vontade, Cristina sai com Juan em programa turístico. Visita o Farol e fala de Vick que em sua opinião é imatura e irresponsável como uma adolescente, gostando de correr riscos. Ele a leva para conhecer seu pai que morava ali perto e que era um poeta que infelizmente não publicava sua obra o que chama muito a atenção de Vick. Segundo o filho ele odiava o mundo, porque os homens não aprenderam ainda a amar e esta era sua maneira de revidar. O velho pergunta de Maria Elena sua ex-mulher com quem continua tendo sonhos eróticos.

Juan lhe diz que antes de ser pintor queria ser escritor ou músico pois sempre quis expressar-se sua emoção real através da arte. Isso o aproximava de Cristina.

O noivo de Vick liga quando ela estava jantando e bebendo vinho à luz de velas com Juan e ela fica nervosa. Ele a convida para ouvir guitarra espanhola e ela se emociona. Juan diz que Maria Elena sempre faria parte de sua vida, mesmo negando que ainda a ama. Eles se beijam e fazem amor.

Na volta para Barcelona, Vick não conta a Cristina sua aventura com o pintor. Já está apaixonada e projeta nele os aspectos que ela reprimia.
Vick se concentra em seus estudos e Cristina sai pelas ruas experimentando sua nova forma de auto-expressão a fotografia.

O noivo de Vick propõe que elas se casem em Barcelona, ela reluta mais aceita.

Juan convida Cristina para uma degustação de vinho e depois ir á sua casa ver seus trabalhos. Ele fala do seu casamento com Maria Elena. Eles fazem amor. Começam a sair várias vezes.
Ele era cordial com as prostitutas, indicando sua liberalidade. Seus amigos eram poetas e intelectuais. Juan convida Cristina para morar com ele.

Juan tem um encontro casual com Vick que o questiona a respeito de seu silencio e diz que apesar de saber que este era um comportamento comum para ele, se sentia frustrada. Ele responde que não queria causar mais confusão já que ela estava para se casar e que estava encantado com Cristina.

O noivo de Vick chega e percebe que ela está diferente, mais presente.

Em um encontro dos dois casais Vick e Juan conversam novamente e ele diz que ela era o oposto dele e que Cristina combinava mais e estava apaixonado por ela. Vick diz que está perdida e confusa com seus sentimentos.

A sua escolha é se casar com seu noivo.

Cristina experimenta a vida com Juan e gosta. Está feliz com a sua paixão. Continuava a escrever e fotografar. Sente que sua alma é européia, pois era ligada nas artes e na literatura, ao contrário de Vick que era muito racional e prática, portanto mais americana.

Nesse ínterim Maria Elena, ex-mulher do pintor tenta se matar e ele a traz para sua casa. Ela bate de frente com Cristina.

É uma mulher belíssima, talentosa, passional, possessiva, sedutora, fálica, temperamental e de comportamento violento.

Maria Elena diz que ele a procura em todos os seus relacionamentos e que gosta até de suas mudanças de humor e copia sua arte.

Cristina a observa pintando com adniração. Elena está muito insegura. Juan a obriga a falar em inglês para que Cristina entenda.

Cristina, Juan e Elena fazem um passeio no campo. Os três reconhecem suas afinidades.

Cristina acha que não tem talento e se desvaloriza. Elena a incentiva e diz que suas fotos são maravilhosas. Elas saem pela cidade fotografando e Elena dá muitas dicas para Cristina. Elas montam um laboratório para revelar as fotos.

Vick está entediada com Mark. Em uma festa ela vê Judy beijando o sócio do marido. Ela confessa que não era mais apaixonada pelo marido e apesar de amá-lo era infiel no casamento, vivendo assim na Máscara.

Elena se apaixona por Cristina e diz a Juan que o amará para sempre mais que Cristina era o que faltava na relação. Ela aprende a dividir Juan com outra mulher e os três se transformam. Elas duas se amam. Um amor homossexual que se assemelhava à espontaneidade infantil.

É a aceitação do amor em sua plenitude. Eles tinham se tornado amantes em harmonia.

Os pensamentos de Cristina se sobrepõem aos sentimentos e a antiga insatisfação aparece. Ela diz que quer algo diferente. Elena fica apavorada e reage dizendo que ela não os ama.

Juan pede: Vamos nos lembrar do outro com respeito.

Cristina decide ir para a França para refletir. Ela se encontra com Vick para contar sua decisão.

Vick continua apaixonada por Juan e confessa seus sentimentos para Judy, que se identifica e projeta suas fantasias de liberdade na amiga.

Maria Elena e Juan voltam a brigar depois que Cristina vai embora e ela decide deixá-lo.

Vick se reencontra com Juan, através de um ardil de Judy, que serve de ponte entre os dois. Ele não perde tempo em seduzi-la e a convida para passar uma tarde com ele. Ela aceita e fica bem atraente para ele, o que representa uma transformação para uma mulher sedutora.

Elena chega de surpresa, fora de si, e tenta matar os dois. Juan a trata com muita paciência maternal. Ela é uma boderline do ponto de vista psicológico. Vive na fronteira entre a neurose e a psicose.
Vick se fere na mão por acidente, no ato explosivo de ciúmes de Elena.

Após sua recuperação, Vick revela a Cristina sua relação com Juan. E Cristina compartilha sua decisão de retornar ao seu país.

O filme aborda com novas possibilidades o amor livre que  rompe com as normas e regras estabelecidas pela sociedade com seus padrões de comportamento prédeterminados,  rígidos e convencionais, reprimindo  os desejos e fantasias sexuais, criando uma cisão entre o corpo e a alma que necessita de liberdade para ser criativa e expressar o Eros que é o desejo ardente de amar.

Através do relacionamento com Juan, um homem liberto dos padrões normóticos, um transgressor, Vick e Cristina puderam transpor alguns comportamentos e desejos reprimidos.

Durante o filme o surgimento de muitos conflitos, promove um processo de transformação e de autoconhecimento para todos. Vick e Cristina eram complementares em sua forma de ver o mundo, e durante o filme cada uma vai desenvolvendo o que faltava em si. Vick desenvolve os sentimentos e Cristina a razão. No auge do conflito os opostos se encontram. É o TAO.

Vick manteve a escolha pelo casamento, mas com a experiência, trouxe mais maturidade e se torna mais mulher.

O filme tem um tom de comédia e drama, apresentando a cidade de Barcelona com todo seu charme, beleza e sua diversidade cultural e artística. Cenários belíssimos e obras de arte que vão da escultura do Cristo gótico em Oviedo às obras de vanguarda modernista do arquiteto Gaudi e Miró: a Catedral da Sagrada Família, o parque Guell, a sonoridade da música catalã. Podemos observar a contradição entre a personalidade externa de Vick muito rígida e conservadora e sua paixão por artistas de Vanguarda como Gaudi e Miró.

“Não sei quem eu sou, mas tenho certeza do que não quero ser.”

sábado, 3 de julho de 2010

Uma homenagem da poetisa Rita Quadros, em celebração ao tema do amor, em 18 de junho de 2010.

Por que precisa de versos
Para lutar com Thanatos
E fazer vencer Eros
Se ele já está em ti.

Toda poesia não é erótica?
Não toca a alma?
Toda alma não é erótica?
Não toca a vida?

Eros derrama versos
Em sua beleza
Escute-os e declame-os

Faça-se poesia
Toque a alma
Toque a vida!

Esse poema de Silvério Duque está em seu livro: "A pele de Esaú", lançado recentemente em Salvador e Feira de Santana.

  
O Beijo, por Auguste Rodin. 
(baseado na trágica história de amor entre Paolo e Francesca, 
Divina Comédia, de Dante Alighieri)

Erotismo

E o que eu adoro em ti é a tua carne,
porque tudo o que é vivo se deseja;
assim, desejo em ti o meu tormento
que há-de crescer na proporção do tempo.

O que eu almejo em ti é a tua sombra,
pois toda boca habita as mesmas vozes
que hão-de tecer com gritos o teu nome
na tarde azul tragada pela noite.

Beijo o teu rosto como se existisse
algum lugar pr’além do Precipício,
e, junto ao gosto de teu lábio esquivo,

uma palavra, sobrescrita em sangue,
há-de adornar o verso em que eu me esqueço
e há-de extirpar, do amor, a fúria imensa.

Recebi do amigo poeta Bernardo, esse lindo poema que contribui para o tema da metamorfose através de Vênus, a deusa do amor.

Rosa aberta
Bernardo Linhares

A brisa sopra a pétala da rosa,
expele o pólen em forma de botão.
Vênus desperta da alma de uma concha.
O céu parece a cauda de um pavão.

O azul renasce namorando a aurora.
O mar não cansa, pensa que é criança.
O mundo gira, gira cor de rosa.
O sol e a lua trocam de aliança.

Trazendo o belo aos que amam o verso,
a luz do dia chora de alegria.
Tudo é sereno sobre as rosas brancas.

Com elegância e delicadeza,
tornou-se a vida rútila e festiva.
Uma lagarta vira borboleta.